Já se esperava que o regresso carreasse a euforia do encontro. A distância e separação suspiravam pela proximidade das novidades, olhares e, sobretudo, pelo face-a-face, mesmo com a velatura da máscara.
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E a socialização ganhou, sossegou e acalmou. Mas a resistência à dureza do recomeço fez-se sentir. E em palavras ásperas. "É tudo muito difícil, professor. Estas mudanças, da escola para casa, e de casa para a escola, derrotam-nos!". Pois, a mudança repentina supõe tempo de espera e persistência. O medo da covid parece controlado, entre as regras e o conhecimento. Algum espanto diante das carteiras vagas. Mas os olhares estão ainda muito distantes. Parados e amorfos, a estranhar o que mais desejavam. Agora, têm de focar-se, lá na frente, na tela, no quadro e no professor. Esticou o olhar, a atenção e o esforço. O professor estava tão perto, ali no computador! Agora ouve-se o eco da sala. E os colegas, ali. E o silêncio é mais fundo. É preciso arrancar-lhes as palavras com provocações medidas, trazê-los de novo para a sala deles. Fazê-los reconhecer o seu habitat. Eles voltarão à intensidade das dúvidas, às participações generosas, à confusão do debate. Mas é preciso aguardar o seu tempo e ritmo. Regressar não significa repor tudo imediatamente. A vontade leva tempo a ativar e requer perseverança de santo. Os choques de aprendizagem são muito duros e os processos de adaptação dos adolescentes são mais lentos do que os dos adultos. Os estímulos têm de ser bem hábeis e específicos. "Parece tudo tão estranho, professor!". "Pois, mas a vida é uma soma de coisas assim. Mas confia. Haveremos de recuperar a nossa energia!". É bem verdade que educar é semear com sabedoria e diligência e colher com muita delicadeza e paciência.
*Professor de História no Colégio D. Diogo de Sousa, Braga