Impávidos e serenos, os senhores da troika estão de regresso a Portugal. Fizeram em devido tempo um receituário para alegada recuperação da situação de incumprimento de Portugal e a cada três meses fiscalizam o respetivo cumprimento sob a ameaça de interromperem a emissão parcelar de um cheque do bolo total de empréstimo - 78 mil milhões de euros.
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Até agora, a cada avaliação tem correspondido uma boa nota. O "aluno" tem-se comportado bem. Mais do que isso: tem adotado o excesso de zelo em variados domínios, apertando mais e mais as políticas de austeridade e cujo resultado desastroso só ainda não foi reconhecido pela dupla Passos Coelho e Vítor Gaspar, acolitados na tecnicidade (ou ideologia?) por figurantes influenciadores como Carlos Moedas ou António Borges. Assim como assim, difícil seria a troika não ter dado visto bom a cada uma das anteriores seis avaliações do plano, pois estaria, além do mais, a reconhecer o seu próprio fracasso.
O processo da sétima avaliação aí está, então. Vai decorrer até 15 de março e até lá é previsível passar em revista todo o plano já cumprido e perceber se as últimas das cábulas deixadas já têm pernas para andar.
Ora, depois da desfaçatez de Vítor Gaspar ao anunciar a necessidade de Portugal dispor de mais um ano para o ajustamento em função dos erros de palmatória cometidos nas projeções orçamentais para este ano - admitiu o dobro do recuo da riqueza nacional de modo irritantemente falacioso, ao anunciar um desvio de um por cento! - é fácil adivinhar a postura benemérita da troika: irá conceder ao país mais 365 dias para o cumprimento das metas. O que se traduzirá no dilatar do prazo de 2014 para 2015 do celebérrimo corte de quatro mil milhões de euros nas despesas do Estado. Dito de outro modo: a redução dos apoios sociais, o fim da ADSE, o emagrecimento no quadro de funcionários públicos e a continuidade da retirada de direitos aos reformados e pensionistas não serão travados - as doses de sacrifícios serão assim mais arrastadas no tempo.
Marcado pela insensibilidade social e a incapacidade para substituir o empobrecimento alinhado ideologicamente por políticas de crescimento, o processo de avaliação nada de substancial mudará. Limitar-se-á a ser dormente.
O povo sofredor, claro, não se deixará enganar. E vai continuar a protestar. E a troika fará de conta. Não será de espantar que até confunda os sons de desagrado das manifestações com o relinchar de cavalos. Como estão as coisas - e sendo bem informados -, os credores do país são bem capazes de achar que há muita gente a sofrer os efeitos da mistura de carne de cavalo em almôndegas ou lasanha e não da austeridade excessiva!
