Como ainda não aprendi o prazer de andar à chuva, só regressei às caminhadas na marginal quando o tempo recomeçou a sorrir. Nada de muito violento. Quatro quilómetros certos, seguidos de uns 20 minutos de ginástica. Ao todo, uma hora. Os mínimos para manter o peso nos dois dígitos.
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Os areais ainda estão sujos com destroços que as ondas trouxeram, mas os passeios não sofreram muito com os dias de feio temporal. E até há a registar o melhoramento da instalação de bebedouros.
A marginal só não está um brinco porque ainda há quem conserve os hábitos dos tempos em que as regras de convivência apenas exigiam que se gritasse "água vai" antes de despejar o penico na rua. Não entendo a mulher que atirou para o rio o saco de plástico, quando tinha a 10 metros o cesto do lixo. Não entendo quem não recolhe o cocó que os seus jecos fazem - e assim eleva a ex-líbris da Foz a merda de cão pisada e impressa com o relevo da sola da sapatilha Nike.
A falta de respeito pelos espaços públicos é apenas uma das faces da deficiente educação cívica que nos está a impedir de ser um país com menos desigualdade, mais rico e feliz.
Quem chega atrasado aos compromissos falta ao respeito de quem ficou à espera (roubou-lhe tempo) e do país, pois está a contribuir para que sejamos o sexto país da UE com menos produtividade no trabalho. Nos últimos 15 anos, todos os dias foram, em média, nomeadas duas pessoas para a administração pública, não necessariamente porque fossem precisas ou tivessem mérito, mas para compensar lealdades partidárias.
O Metro Mondego já custou 75 milhões, mas não saiu do papel. Um vereador PSD de Baião, que foi trabalhar para Inglaterra como enfermeiro, tentou que lhe pagássemos as viagens para vir às reuniões de Câmara. E os 27 mil euros que a mulher de César gastou numa viagem ao Canadá, quando o marido chefiava o Governo, ficaram por nossa conta.
A onda de prescrições que beneficia os poderosos é filha do inexplicável passo de caracol da Justiça. O caso dos submarinos está em cartaz há oito anos. O processo de Jardim Gonçalves esteve parado 30 meses. O escândalo BPN está a ser investigado há seis anos e não tem conclusão à vista. A Operação Furacão ainda tem 11 processos na fase de investigação!
Em 2013, 200 milhões de euros foram desviados para Lisboa, ao abrigo do "efeito dispersão" que permite desviar para regiões ricas fundos comunitários destinados a regiões pobres. Um dirigente do PS acha normal dizer que "se não pagarmos a dívida, os banqueiros alemães até tremem". Sócrates tem a lata de afirmar que "pagar a dívida é uma ideia de crianças".
Só podemos acabar com a pobreza e voltar à senda do progresso se acabarmos com a falta de respeito pelos dinheiros e a coisa pública de que dei alguns exemplos. Há valores básicos que entraram em desuso, mas a que temos de voltar. Como os sentimentos de culpa e vergonha. E a consciência de que temos de pagar o que devemos, de respeitar os outros e os dinheiros públicos, de vender mais do que compramos e de ganhar mais do que gastamos.