Há praticamente um mês que a Federação Russa invadiu parte significativa do território da Ucrânia. Chama-lhe "operação militar" e proibiu a utilização do termo "guerra" em casa.
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Deu origem ao maior movimento migratório na Europa depois da II Guerra Mundial. As imagens de destruição de vidas e património são brutais. As "baixas" de um lado e do outro variam consoante a fonte, embora a Ucrânia esteja a "ganhar" a batalha da propaganda, da informação e da contra-informação já que é única divulgada pelo Ocidente. A economia global vacila. Ainda não se pode afirmar com segurança em que medida isto é mais um ponto de chegada ou um ponto de partida. Provavelmente será ambas as coisas. Por trás, e por todos os lados deste sarilho monumental, está a figura de Vladimir Putin. Vale a pena perder umas linhas com ele. Foi o que fizeram cinco professores americano-ucranianos num artigo no "The Washington Post" que o "Público", em exclusivo, traduziu e publicou. Simplificadamente, estes economistas explicam três coisas. A primeira, que é uma pura fantasia pensar no afastamento de Putin num futuro próximo, independentemente do "método" - assassinato, golpe, etc. A segunda consiste em não existir uma relação causa-efeito nas sanções. Ou seja, a Rússia está habituada à privação. Com quem não está, o regime, e o seu controlo sobre a informação, as liberdades públicas e com uma nomenclatura escolhida a dedo por Putin, encarrega-se disso. Dito de outra forma: "os russos não vão parar a guerra de Putin". Não aceitará a derrota e, muito menos, a humilhação, acrescentam, mesmo que não consiga "quebrar totalmente a resistência". E a NATO, os EUA e a UE dificilmente alterarão as limitações impostas ao seu envolvimento, dada a "alternativa" de uma nova guerra mundial. Finalmente, e em conclusão, deve recusar-se aquela primeira fantasia e "pensar de modo sério e criativo sobre segundos "melhores resultados", "aceitáveis para nós", com inevitáveis custos humanitários e materiais. Vladimir Putin cresceu num prédio de apartamentos-chapa da antiga União Soviética, em Leninegrado, hoje São Petersburgo. Para chegar ao quinto andar, onde vivia com os pais, o miúdo subia uma escada esburacada, mal iluminada, malcheirosa, a abundar em ratos. Putin e os seus amigos da vizinhança entretinham-se em perseguir as ratazanas com paus. Como se fosse um jogo. Atarracado, por volta dos 12 anos, passou a frequentar uma escola de artes marciais. "Sambo", um misto soviético de luta livre e judo. Aprendeu a disciplinar-se. A enfrentar gente maior e mais robusta que ele. Nas suas próprias palavras, "o desporto tirou-me das ruas, foi uma ferramenta para me afirmar no seio da matilha". Tem-se visto.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
Jurista