"Pode dizer-se que estamos em recessão. A dinâmica das variáveis macro-económicas vai produzir aquilo que dissemos e que as instituições internacionais confirmaram: uma recessão económica durante o ano de 2011, que é a contrapartida do processo de ajustamento". Nem Nostradamus, se por cá andasse, poderia ser tão certeiro a vaticinar o nosso futuro imediato como o governador do Banco de Portugal, com aquela declaração, proferida em entrevista ao "Diário Económico". Numa tradução livre de "economês" para português corrente, o que Carlos Costa disse sintetiza-se numa só frase: para endireitarmos as nossas finanças públicas, temos de bater no fundo - e já estamos em voo picado.
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Não vale a pena, vindo o prognóstico de quem vem, atrevermo-nos a discutir como é que bater no fundo nos pode dar recobro. Os cultores dos insondáveis segredos da economia hão-de explicar o que sabemos por intuição: se andarmos todos de tanga, sempre poupamos na roupa. Como se esse fosse o caminho para cumprir as metas do défice...
Discutamos, então, a oportunidade do oráculo. Já tivemos um ministro que decretou o fim da crise (e ela, rebelde, não lhe obedeceu...). Agora, temos um governador do Banco de Portugal que decreta uma recessão. Recessão é um conceito técnico; não uma percepção. Não é o "parece-me que estamos a afundar-nos!" do marinheiro imprevidente. É a certeza de que a popa já está submersa. Ora um país entra em recessão ao fim de dois trimestres de crescimento negativo - o último do ano passado teve essa sina - não entra a meio do ciclo.
Admita-se que Carlos Costa conhece o resultado do jogo antes de ele acabar, porque do alto da sua posição vê para além do horizonte e dispõe de indicadores económicos que consolidam uma tendência. A questão está em apurar se, dada a sua posição institucional, deve proclamar publicamente que estamos em recessão.
Uma declaração dessas não é um mau sinal para os mercados internacionais, que tantos responsáveis foram acusados de dar, noutras ocasiões? Não é insuflar pessimismo no balão da economia, que tão baixinho tem voado? A resposta é evidente.