Contra todo o pessimismo relativamente a um jornalismo que se pensa sucumbir à força das redes sociais, surgiu ontem a revista "Time France". Na capa, Angelina Jolie chama a atenção para a importância da prevenção do cancro da mama, testemunhando a sua opção em fazer uma mastectomia preventiva. Eis o jornalismo a ser espelho e motor dos grandes temas da atualidade. E a testemunhar a sua força.
Sou leitora habitual de imprensa (inter)nacional, tendo particular curiosidade em relação às publicações semanais editadas em diferentes países. Num número especial de Natal, a revista britânica "The New Statesman" publicou um artigo intitulado "O poder da imprensa", no qual sublinha traços que historicamente distinguem o jornalismo aí desenvolvido: profundidade no tratamento dos temas, originalidade no agendamento editorial e prazer na leitura. As redes sociais nunca poderão rivalizar com essa força.
Se seguirmos uma perspetiva diacrónica, percebemos que ainda há poucos anos encontrávamos um jornalismo que parece estar fora de moda: construído com tempo, com citação de fontes em registos argumentativos, assente na convicção de que as ideias importavam mais do que a velocidade com que tudo circula e com uma enorme adesão dos leitores. Muita coisa mudou. Hoje, percebemos que as redes sociais se constituem como o principal campo de batalha de perceções cuja relevância depende da capacidade de gerar ruído. O que se perde não é apenas profundidade, é continuidade, memória e, acima de tudo, responsabilidade por aquilo que se diz ou escreve. Agora não são os cidadãos que mais importam. São as métricas. É preciso manipular bem algoritmos e provocar interações.
No entanto, há quem ouse fazer vingar o jornalismo. A "Time" deu ontem início a uma nova edição: "Time France". Em editorial, escreve-se que esta publicação trimestral quer constituir-se como elo entre a Europa e o Mundo, prometendo um jornalismo em profundidade já desenvolvido pela revista-mãe, que soma em todo o Mundo 120 milhões de leitores em vários suportes.
Num ecossistema mediático dominado pela urgência e pela simplificação, um jornalismo que se preocupa com a análise detalhada dos temas lembra-nos que compreender o Mundo exige tempo, confronto de argumentos e abertura a vários pontos de vista e ângulos de mediatização. Não se trata aqui de negar o poder das redes, mas de recusar que estas ditem por si só todas as regras de debate coletivo. Entre a palavra ponderada e o ruído ensurdecedor dos fluxos de informação, o jornalismo deve continuar a escolher o primeiro caminho, para que haja uma cidadania devidamente informada.
Este alerta da revista "The New Statesman" tem tido várias réplicas em diferentes países. É urgente salvar o jornalismo. A "Time France" dá o seu contributo. Entre o ruído fácil e a reflexão exigente, a escolha continua a ser nossa.
Feliz Natal!

