A histeria dos inimigos do conhecimento é tão antiga que já Camões a relatava, há 500 anos. E persistente. Por mais voltas que a Terra dê ao Sol, haverá sempre quem a imagine parada e plana, vítima de uma conspiração de cientistas e governos que lhe atribuem forma esférica só porque sim.
Corpo do artigo
Apesar dos solavancos, o Mundo pula e avança à custa de evolução da Ciência, a única via para nos livrar de vez de mais uma pandemia. Se há dois anos nos dissessem que só com vacinas eficazes poderíamos levar uma vida normal, todas as reservas seriam aceitáveis, atualmente, não só são dispensáveis como se transformam em ruído absurdo.
As provas quanto ao potencial de crescimento e de dano da extrema-direita e dos movimentos negacionistas, gente que se organiza e circula nas fronteiras da democracia, emergem quando em causa estão temas tão básicos como a saúde pública, através da promoção de teorias obscurantistas. O episódio captado pela Comunicação Social junto a um posto de vacinação no fim de semana, em Odivelas, onde o coordenador da "task force" foi insultado, denuncia a existência de uma estratégia de desinformação, sobretudo porque o protesto aconteceu num dia em que milhares de adolescentes estavam a ser vacinados um pouco por todo o país.
A estratégia apoia-se na difusão de mensagens sem crédito científico através do medo e está perigosamente globalizada, uma vez que os protestos são copiados de realidades vividas noutros países, mas como nem tudo é mau, a boa notícia reside no facto de em meia dúzia de dias terem sido vacinados 80% dos jovens entre os 16 e os 17 anos em Portugal, sinal de que os mentores da alternativa apocalíptica ficarão, outra vez, vergonhosamente sós, e poderão sempre optar por não tomar a vacina. Talvez não se recordem, talvez nem acreditem, talvez os deixe aborrecidos, mas vivemos num país livre.
Chefe de Redação