Porco no espeto! - era o que dizia o letreiro mesmo à entrada da rotunda da Boavista, quem vem de 5 de Outubro. Quando passei de carro, o chefe improvisado espetava o dito, mãos nuas, em ferros polidos por cima do fogareiro.
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Sempre de roda, pude ver uma e outra variação desta versão do "comer fora" junino, misturado com diversões próprias de romarias numa composição pouco conseguida e pouco convidativa.
Ao mesmo tempo, lembrei-me das várias feiras e festejos populares que tenho visitado e experimentado por essa Europa fora. Fica-me a ideia de uma organização irrepreensível. Barraquinhas e diversões ao jeito de contos de Grimm, onde nunca faltam o vinho quente ou as maçãs caramelizadas, vermelhas e vidradas com medida e calibre predefinido.
Sabe-me bem, mas não acredito. Não descortino nestas manifestações populares da nossa Europa desenvolvida um pingo de genuinidade, nem um traço, ténue que seja, da ligação com as celebrações e, sobretudo, com os personagens que lhes estiveram na origem.
A "disneylandização" do folclore europeu é dramática e destrói todo o potencial de diferenciação que é necessário ativar com cada vez mais força, para que uns e outros vão aqui e não ali, escolham este e não aquele destino para conhecer.
O Porto e os seus responsáveis autárquicos parecem estar conscientes deste imperativo; conscientes de que tornar assético, por exemplo, o nosso S. João, seria, para além de uma falta de respeito, matar a galinha dos ovos de ouro que é, cada vez mais, a atividade turística da cidade.
E apesar de resvalarem um bocadinho para o mainstream lisboeta, por exemplo com um fado que sendo nosso não é exatamente portuense, dão espaço à manifestação popular simples e grandiosa do povo que sai à rua, desorganizado e sem rumo, martelando e esperando alegremente o fogo da ribeira e o acender da ponte.
Que assim seja, por muitos e bons anos.
Dito isto, é preciso acompanhar com rigor as condições do que se expõe e do que se consome. Na "Rotunda" e em tantos outros pontos da cidade.
Há condições de higiene, de conforto básico e de ordenamento dos espaços que não podem ser deixadas ao critério de cada um. Sob pena de o excesso de genuinidade, mais preguiçosa do que imanente, comprometer a adesão expressiva do povo e dos visitantes.