Combater a perceção de que a saída do estado de emergência significa que tudo volta a ser como antes será o grande desafio que o Governo vai ter de enfrentar nos próximos tempos.
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Um desafio antecipado que António Costa assume ao avançar com a quarta fase do plano de desconfinamento já este sábado e não na próxima segunda-feira, conforme estava previsto. Evita um vazio legislativo entre as duas datas, responde afirmativamente ao setor da restauração, que pedia o alargamento dos horários, e corresponde às expectativas da maioria da população. Pode fazê-lo porque também pode reclamar sucesso no plano gradual de reabertura do país.
Continuarão certamente as dúvidas sobre se o estado de calamidade é juridicamente adequado e suficiente ao momento que o país atravessa. Dúvidas importantes, mas secundárias. Assegurar que as orientações das autoridades de saúde serão seguidas à risca, garantir que a generalidade da população não aliviará as medidas de proteção individual, num momento em que os números jogam a favor do desconfinamento, serão os principais objetivos e preocupações.
Voltamos, portanto, à questão da mensagem. À mensagem que é preciso fazer chegar às famílias e amigos que se sentarão com mais tempo nos restaurantes, aos que praticarão atividade física em grupo e aos que participarão em eventos exteriores ou interiores, mesmo que a lotação seja reduzida. A preocupação, em forma de apelo, foi aliás evidente na declaração que Marcelo Rebelo de Sousa fez ao país quando anunciou a decisão de não renovar o atual estado de emergência. "Temos de poder contar com cada um de nós", disse.
Não é preciso ser politólogo para saber que o Governo terá o difícil desafio de gerir um desconfinamento em plena primavera e verão. Difícil será perceber o impacto das restrições vividas durante 173 dias consecutivos e a forma como o país responde a todos os votos de confiança.
*Diretor-adjunto