<p>A Bíblia dizia que "aos olhos de Deus nada é oculto". A organização Wikileaks vem dizer que nada está oculto à face da Terra. A primeira máxima dirigia-se à consciência de cada pessoa humana no sentido de fazer crer que, por mais escondido e íntimo que seja o comportamento de cada indivíduo, Deus conhecê-lo-ia e, um dia, o castigo ou a recompensa far-se-ão sentir. Não se sabe, ao certo, quanto esta orientação, ao longo dos tempos, sobretudo, no mundo cristão, terá compelido a conduta dos seres humanos a evitar o mal e a seguir o bem. Com a perda da crença religiosa terá crescido o número daqueles que não temiam esta visibilidade. Agora, o objectivo da Wikileaks obedece ao preceito do seu fundador, o australiano Julian Assange de "obrigar os governos a serem transparentes nas suas decisões". É um pressuposto mais colectivista e destina-se àqueles que decidem as situações dos povos. </p>
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Ao divulgar, através do correio electrónico, milhares de documentos - textos, vídeos, fotografias - até então com a chancela de "confidenciais", a Wikileaks veio criar um enorme desequilíbrio na segurança do comportamento dos estados, cujos efeitos primários, e por ora não delimitados, não serão, por certo, os de aumentar a transparência, mas despertar medidas de castigo para os prevaricadores e procurar mecanismos que reforcem o segredo na actuação dos estados. A primeira tentação será a de "suspender a democracia" e a livre circulação da informação.
Segundo alguns estadistas, estamos perante "uma nova forma de terrorismo". De facto, não se sabe o que podem fazer desencadear estas revelações, por exemplo, a propósito do Irão, do Iémen, da al-Qaeda. Mas, para além, deste temor de perigo, não virá grande mal ao Mundo se, com este caso, os governos suspeitassem, cada vez mais, que, neste mundo de comunicação electrónica, o segredo está ameaçado de morte e fizessem primar o relacionamento entre os povos, com menos hipocrisia e de lutas escondidas e cobardes, por interesses obscuros.
E nesta suposição, até seria salutar que a Wikileaks pusesse a funcionar os seus métodos para quebrar sigilos numa Europa, com desejos de países de primeira e segunda, ou desta sigilosa guerra entre o dólar e o euro.
O segredo pode não ter morrido, mas está ameaçado de morte. Num mundo tão perigoso e tão pouco seguro, se isso contribuísse para torná-lo diferente, eu não choraria pela sua morte.