Corpo do artigo
A romaria do Senhor de Matosinhos é um daqueles clássicos que não passa de moda. Sou assídua desde a infância e nunca me desiludo. Até porque a diversidade da oferta e o aparecimento ocasional de novidades permitem renovar os hábitos e criar novos rituais anuais. Há possibilidades e estímulos para todos os gostos e idades e a verdade é que no quesito gastronómico também é bastante consensual.
Este ano começou com novidades: um desfile de cabeçudos e uma roda gigante. Mas eu, leal como um cão, escolhi as velhas predileções como o ponto (sempre) alto da minha visita à romaria. No caso, ir namorar as figurinhas de cerâmica, daquelas de fazer “cascatas” e presépios. Compro sempre uma ou duas (às vezes mais) para que habitem nas minhas estantes, cada ano mais populosas. São senhoras em tarefas várias, galos e músicos, campinos de cócoras a fazer cocó, algumas ovelhas, passarinhos de meter água e assobiar, que compõe uma colorida fauna de barro, que mantém a festa o ano inteiro junto às lombadas dos livros.
Aproveito também as bancas de pratos, tigelas, jarras e vasos, de fábricas portuguesas, sempre atualizadas nas mais sofisticadas tendências de decoração de interiores, mas fiéis também às eternas malgas de barro e aos assadores de chouriços. Não perco também a banca dos vimes, para namorar cestas de verga, ceiras de cores, carteiras de palhinha, canastras e cestinhos de pão. São sempre um primor.
Depois, e a caminho de uma eventual fartura, passo na barraca de rifas da Obra do Padre Grilo, a mais icónica da feira, sem esquecer de espreitar (ali ao lado) os grilos das gaiolinhas, que antigamente eram moda, mas que hoje já são difíceis de encontrar (por boas razões). Sorrio sempre ao ver aquelas pequenas jaulas de plástico colorido, não tanto pelas memórias de infância, mas pelo absurdo de levar um grilo para casa como animal de estimação. Lembro-me sempre de quando levei uns amigos catalães ao Senhor de Matosinhos e da sua perplexidade perante a existência do negócio de gaiolas de grilos. Apercebi-me que devemos o nosso escasso exotismo cultural aos pobres grilos em cativeiro, alimentados a alface pelos seus pequenos proprietários.
No fim do percurso, os carrosséis! Cada ano maiores e mais sofisticados, com suas pinturas a aerógrafo e luzinhas de cor. Felizmente, agora vou apenas na qualidade de mãe. É que sempre fui pouco amiga de adrenalina, tenho memórias de passar mal nas pouco reguladas animações dos anos noventa, de ficar com as canelas pisadas nos carros de choque e de perder sempre nos matraquilhos. Ainda bem que cheguei à idade de preferir (sem pudor) a banca da cerâmica.