Vai encerrar a Cartuxa de Évora, o único mosteiro masculino português em que os monges estão habitualmente em silêncio, numa vida dedicada à oração.
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Foi fundada em 1587 e esta é a segunda vez que é fechada. A primeira, por ordem do ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, Joaquim António de Aguiar, que a 30 de maio de 1834 decretou a extinção de "todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares", o que lhe valeu o epíteto de Mata-frades.
Reabriu em 1960 e, no início de novembro deste ano, os últimos quatro monges serão transferidos para a Cartuxa de Barcelona, por não terem vocações suficientes para manterem o mosteiro português aberto. Dificilmente será reaberto nas próximas décadas, disse o superior da comunidade cartusiana, o padre Antão, à revista católica "Família Cristã". Tal só poderá acontecer "se a Igreja Católica ressuscitar na Europa", afirma.
Entretanto, D. Francisco Senra Coelho, arcebispo de Évora, assumiu, em declarações à agência Ecclesia, que tudo irá fazer para que, "com a brevidade possível", o mosteiro possa ser entregue "a outra comunidade monástica, contemplativa, masculina ou feminina", para que a Cartuxa continue a ser "um lugar santo" em que se continue a testemunhar uma vida totalmente dedicada à oração.
Numa sociedade imersa no ruído e no ativismo, como é a ocidental, a vocação a uma vida contemplativa aparece como anacrónica e esvaziada de sentido. Na verdade, porém, até por causa do excesso de ruído e da agitação que caracteriza o Mundo contemporâneo, as pessoas precisam, como nunca, de parar e de se reencontrar. Precisam de redescobrir o valor do silêncio.
Estão a surgir na Igreja movimentos que propõem novas formas de viver a contemplação e a união com Deus. Mesmo no meio do barulho e do ruído das nossas cidades é possível ser-se um "contemplativo ambulante". É este o desafio que Maria de los Angeles de los Rios Mora lança aos participantes nas sessões psicopedagógicas que orienta e que caracteriza a espiritualidade do movimento eclesial de Mambré, por ela fundado. Nos últimos 30 anos dinamiza leigos ou clérigos, casados ou solteiros, no seu crescimento humano, espiritual, teológico e eclesial. Maria de los Angeles desafia-os a todos a aproveitarem os pequenos momentos de solidão ou de silêncio da sua vida quotidiana para entrarem dentro de si - e encontrarem-se consigo e com Deus. Mesmo quando se está envolto pelo ruído, pode-se sempre fazer silêncio interior. E quando se está rodeado por pessoas, pode-se fazer a experiência de uma solidão que não é estéril ou depressiva, como acontece nas grandes cidades, mas fecunda e habitada por Deus.
É cada vez mais importante não se deixar submergir pelo ruído ou pela agitação. Desenvolver a capacidade de silenciar o que o distrai para se concentrar na contemplação da beleza do seu mundo interior e do Mundo que o rodeia. Parar para restaurar as forças. E enfrentar melhor os desafios que se é chamado a vencer no dia a dia.
*PADRE