O bloqueio no canal de Suez durante uma semana, devido a um cargueiro de contentores ter encalhado no estreito, obrigou a que, durante esse período, voltássemos aos tempos dos Descobrimentos e de Vasco da Gama, em que muito do transporte internacional de mercadorias tivesse que fazer a rota das Índias, passando pela África do Sul. Mas o mais importante é que este incidente tornou reveladora a fragilidade da globalização, especificamente do comércio internacional de mercadorias.
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Este canal, por onde passa 12% do comércio mundial, faz parte de uma das mais importantes rotas comerciais do Mundo. Os contentores transportados por navios semelhantes ao Ever Given são atualmente os principais arquitetos da expansão do comércio global. É que a sua padronização tem permitido, além de aumentar as cargas, uma importante simplificação e um transporte mais barato.
As consequências imediatas deste bloqueio, já terminado, foi o aumento dos preços de algumas matérias-primas, mais explicitamente o petróleo e que atolou cerca de 360 navios durante essa semana. Em vez das especiarias trazidas pelos portugueses há mais de 500 anos, desta vez os petroleiros e navios mercantes foram obrigados a desvios através da África do Sul, refletindo-se logo nos preços das mercadorias. De qualquer forma, o impacto mais significativo é a noção de que o canal do Suez tem um papel importante sobre a própria dinâmica da globalização.
Já não bastava a desconfiança geradas pelas políticas protecionistas de vários países ou pelo mau funcionamento de órgãos de arbitragem como a Organização Mundial do Comércio (OMC), junta-se agora o temor da dependência excessiva de centros de produção no exterior ou de sistemas de transporte não controlados diretamente. As grandes empresas multinacionais, que têm as sedes nos países desenvolvidos e a produção nos subdesenvolvidos, começam agora a temer as incertezas na logística. E isto não vem só com o canal do Suez, mas também com a própria pandemia, que renovou o temor de algumas indústrias da dependência excessiva de centros de produção no exterior ou de sistemas de transporte não controlados diretamente.
A confiança gravemente prejudicada no multilateralismo está novamente em jogo. E nele o comércio de mercadorias é essencial. Se, às ameaças já existentes à recuperação económica global, forem adicionadas aquelas que acentuam uma desconfiança na cadeia de logística, o resultado será menos bem-estar para quem consome e para quem produz.
Editor-executivo