O que pode aguardar-se deste PSD? A actual direcção quer manter-se na liderança do partido, à espera que Sócrates caia. Abrir-se-ia aí uma janela de oportunidade ao PSD. A questão é: mas a que PSD?
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O militante n.º 1 do PSD, Francisco Pinto Balsemão, disse há quatro dias que o seu partido caminha, lenta mas alegremente, para o "suicídio colectivo". Repito: o PSD caminha para o "suicídio colectivo". A declaração fez-me lembrar de imediato o efeito que as bombas disponíveis no jogo brick-breaker (destruidor de tijolos, em tradução livre) provocam quando tocam nos ditos tijolos: tudo abana. Pensei que o partido abanaria. Ingenuamente, percebo agora, porque nada no PSD abanou.
Se um partido da dimensão e da importância do PSD corre o risco de desaparecer, isso quer dizer que a democracia portuguesa está bastante perto de ficar (ainda) mais pobre. Por isso, uma declaração deste calibre, vinda de quem vem, deveria suscitar alguma reacção, algum debate, algum contraditório no seio do partido (e até fora dele). Não suscitou nada, facto que, em si mesmo, é bem revelador do estado em que se encontra a alma dos social-democratas.
Ontem, no primeiro debate quinzenal desta legislatura, travado na Assembleia da República, ficou claro que, para desgosto de todos, Pinto Balsemão tem a sua dose de razão. A prestação do PSD, e designadamente da sua líder, mostrou bem como o caminho e a estratégia dos social-democratas é basicamente inexistente.
Num momento particularmente difícil para o Governo (exemplos: caso "Face Oculta" com ministros de peso como Vieira da Silva a falar de "espionagem política, estado da economia, défice, desemprego, orçamento rectificativo...), Manuela Ferreira Leite começou o debate a defender-se, abdicou da peleja e passou depois a palavra ao líder parlamentar (que, como se sabe, não é um exemplar orador), permitiu que o PS a cola-se à agenda do Bloco de Esquerda e acabou a ouvir o primeiro-ministro a acusá-la de conduzir o partido seguindo uma linha de "lama" e "coscuvilhice". As palavras escolhidas por José Sócrates não são seguramente as mais condizentes com o léxico parlamentar, mas mostram à saciedade como o primeiro-ministro soube aproveitar o momento para "virar o bico ao prego".
O que pode aguardar-se deste PSD? É já claro que a actual direcção está apostada em esticar a corda o mais que puder, ficando na liderança do partido até ao limite do aceitável, à espera que os "factos" tirem José Sócrates do Governo, abrindo-se assim uma janela de oportunidade ao PSD. A questão é: mas a que PSD? A este de Manuela Ferreira, cujo caminho, traçado por estrategos e ideólogos de alto coturno, a trouxe até este beco? Ao PSD de Pedro Passos Coelho, que está longe de ser um congregador de vontades? Ao de Aguiar-Branco, cujas ideias sobre Portugal são uma incógnita? Ao de Marcelo, que pede uma obviamente impossível federação de interesses, sendo que o federador seria ele próprio? Deve ser por não vislumbrar, assim de repente, uma saída airosa e substantiva que Pinto Balsemão teme o "suicídio".