A nova etapa da vida do PSD corresponde a um conjunto de desafios quase tão vastos como aqueles que o país enfrenta. E a grande questão está em saber que resposta e que discurso terá Rui Rio para oferecer. Para existir e criar condições de ganhar eleições, o PSD está obrigado a voltar a falar com os portugueses.
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O lugar de líder da Oposição já é, por norma, o mais difícil da vida política. A agravar a circunstância, Rui Rio encontra o partido numa das conjunturas mais delicadas da sua existência, como, aqui, em janeiro, havia já detalhado. Escolhido um novo líder e cumprido o ritual do congresso, o ano e meio que falta até às próximas legislativas - na realidade menos de um ano até que comece a pré-campanha -, é um período de tempo muito curto face à dimensão do trabalho de reabilitação que o PSD tem pela frente.
A exigência da tarefa, aliada ao facto de as expectativas não poderem ser altas, jogará sempre a favor de Rui Rio, do seu pragmatismo e da sua obstinação construtiva. Sendo certo que, para início de conversa, algumas das escolhas do núcleo duro do novo presidente não são propriamente cativantes.
Pelo contrário, mais do que a disposição, a aposta no estabelecimento de acordos de regime e o foco nas pessoas e no discurso social são indícios bastante positivos e interessantes. Em primeiro lugar, porque este posicionamento recoloca o PSD no debate dos grandes temas nacionais - dos quais, tirando a economia e as finanças públicas, está há anos afastado. Depois, porque recupera as suas vocações humanista e reformista, criando condições para disputar com o PS o eleitorado do centro, a classe média e o funcionalismo público. Por fim, porque a instituição de um diálogo direto com as pessoas, na perspetiva da resolução de problemas concretos, parece ser, como se constata pela ação do presidente da República, se não o único, pelo menos o melhor caminho de recuperação do prestígio e da popularidade perdidas pelo exercício da atividade política.
As dificuldades são conhecidas, a vantagem do adversário António Costa aparenta ser imensa e o tempo é curto. Sucede que, em política, um ano é uma eternidade. E, não forçando demasiado a comparação, o cenário que se depara a Rui Rio não é especialmente mais sombrio do que era em 2001, quando ganhou as eleições para a Câmara do Porto.
Deste congresso, devem sublinhar-se a enorme dignidade de Passos Coelho, a frontalidade de Luís Montenegro e a solidariedade de Santana Lopes. Mas isso foi de sexta a domingo, em Lisboa. Desde segunda, Rui Rio está por sua conta e o PSD tem um país real à espera do que tenha para lhe dizer.
EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO