O tempo do presidente é, no dia a dia, muito acelerado. No sentido de que faz muitas coisas em muito pouco tempo. Basta passar os olhos pela agenda que vai manter nestes dias que passará em Nova Iorque.
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E, no entanto, os sinais que vai deixando quanto à geografia política da governação parecem de longo prazo. Ouvindo-o a propósito de fundos estruturais na semana passada estava lá tudo: o apelo à pacificação - a culpa não vinha de trás e não ficava com os da frente - e ao consenso, sem pôr em causa a conjuntura - o que está a ser feito é bem feito mas há coisas que só se conseguem com acordos de regime que representem a maioria dos portugueses.
Por miúdos, a ideia de um realinhamento ao centro, o regresso ao bloco PS-PSD conseguida que seja a mudança do líder do PSD após as autárquicas - no pressuposto de que correm mal ao PSD.
Quanto à conjuntura, a paz parece garantida. Apesar das dificuldades, não há perigo iminente, a paz social comprada com o acordo à Esquerda vale dinheiro, as eleições alemãs e francesas tiram poder à burocracia europeia, e, ao contrário do que se possa pensar, talvez o segundo semestre traga boas notícias sobre o crescimento económico, tal o empurrão dado pelo turismo.
A questão é que não vai chegar e António Costa sabe-o. Ficou provado que seria necessário um choque de rendimento muito superior para estimular a economia e diminuir a dívida privada e ficou provado que continuamos completamente dependentes da manutenção do atual perfil de actuação do BCE para conseguirmos aceder aos mercados de forma regular.
Parece igualmente provado, pela atuação sedenta de Mariana Mortágua, que a ter de continuar a atuar do lado dos custos, o PS não conseguirá levar por diante qualquer tipo de reforma.
Sendo assim, mantendo-se António Costa até ao fim ou cuidando de se salvar, como se recompõe o ciclo?
Será sempre demasiado cedo para o PSD e já demasiado tarde para o PS. Será preciso uma aliança. Mas essa impõe a mudança de protagonistas ou de discurso. Nem uma coisa nem outra parecem garantidas ou mesmo fáceis.
Se Marcelo Rebelo de Sousa não cuidar de estudar outros cenários, outubro de 2017 pode ser uma meta a que nunca chegará por ter partido demasiado cedo. E o pior é que a ser assim o seu relógio nunca mais se acertará com o país.
ANALISTA FINANCEIRA