<p>1. O governador do Banco de Portugal (BdP), Vítor Constâncio, é uma daquelas figuras de Estado que nos habituámos a respeitar, pela sua honestidade pessoal e intelectual. Ouvimo-lo sempre com devida atenção quando a instituição que dirige nos transmite com regularidade o retrato da economia portuguesa (ultimamente, ouvimo-lo com temor, porque o retrato é sempre feio...). O ex- candidato a primeiro-ministro é, de resto, respeitado dentro da sua área de especialidade (consta que é dos mais escutados nas reuniões do Banco Central Europeu) e fora dela. </p>
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Por tudo isto - e pela importância institucional do BdP -, custa ver Vítor Constâncio enleado numa série de episódios que lhe enviesam a imagem e questionam a qualidade do trabalho que tem vindo a desenvolver enquanto líder do banco central. A coisa chegou a tal ponto que há cada vez mais gente a perguntar - uns de forma interesseira, outros de forma interessada - se Constâncio ainda tem condições para permanecer à frente do BdP.
Façamos um curto relato dos episódios deste filme ainda sem epílogo.
O governador começou a ser politicamente fustigado quando, a pedido do Governo Sócrates, avaliou o valor do défice deixado pelo Executivo de Santana. O tempo amainou a polémica. Até que chegaram, por esta ordem, as "bombas" BCP, BPN e BPP. A prestação do BdP nestes casos, sobretudo no que diz respeito à sua capacidade de supervisão, foi posta em causa uma e outra vez. No Parlamento, a comissão de inquérito ao "caso BPN" fez-lhe muita mossa.
Como se isso não bastasse, ontem foi conhecido o relatório anual da Provedoria de Justiça. Ali se diz que a cooperação do BdP com uma das mais importantes instituições de defesa dos direitos dos cidadãos perante o Estado "ficou bastante aquém do desejado: as respostas prestadas a questões colocadas de forma clara e directa são manifestamente insuficientes". O resumo é duro.
Definitivamente, a vida não está fácil para Vítor Constâncio. Mas pode piorar. Se o relatório da comissão de inquérito for severo para o BdP, a margem de manobra do governador passa de escassa a ínfima. Nessa altura, Constâncio será obrigado a pensar muito bem se a sua presença no BdP deixou de ser uma mais-valia e passou a ser um incómodo.
2. "A Bola" explicou-nos ontem como os espanhóis se preparavam para tomar o Benfica de assalto, caso José Eduardo Moniz fosse a votos e ganhasse a Luís Filipe Vieira. O estratagema previa mesmo a "privatização" (credo!) do futebol do Benfica. Ou muito me engano, ou esta novela vai animar o Verão.