A manhã de ontem principiou com as velas enfunadas pela notícia de que a Fitch passou a ter uma perspetiva positiva quanto à possibilidade de vir a notar a dívida portuguesa acima do atual escalão de lixo. Mais uma vez, a vontade que temos em sair do buraco foi mais forte do que a necessidade de ler todas as linhas inscritas nessa nota sobre a nova perspetiva da Fitch. E entre elas, as seguintes considerações que aquela agência de notação financeira quis sublinhar: a de que, não se encaminhando o processo para essa hipótese, não restam porém dúvidas de que seria melhor para Portugal poder dispor de um programa cautelar no pós-troika, entre outros motivos porque todos os setores da economia continuam endividados e o desemprego é alto.
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Não será preciso esclarecer que esta nova perspetiva da Fitch é sem dúvida interessante para os bancos que detêm grande parte da dívida do país, os quais, a confirmar-se alguma subida de rating, poderiam recorrer a crédito do Banco Central Europeu mediante taxas de juro mais favoráveis.
Acontece que para a economia no seu todo não chega que o nosso sistema bancário se mostre resistente e dê sinais de poder colocar-se à disposição das empresas, em especial das que operam com bons índices de valor acrescentado e produzindo bens para exportação ou substituição de importação. É ainda preciso que haja criação de efetivos postos de trabalho e que os consumidores reganhem boa parte do poder de compra perdido.
Ora, nestes dois capítulos, o que também ontem ficámos a saber através da OCDE e do Eurostat não responde positivamente às reticências assinadas pela Fitch.
Desde logo porque Portugal é, de entre os 34 países da OCDE, aquele onde a carga fiscal sobre o trabalho mais aumentou: 3,5% em 2013. Pelo que a carga fiscal que carregamos atingiu os 41,1%, muito acima dos 35,9% da média dos 34 da OCDE.
Por outro lado, o relatório de fevereiro do Eurostat informa-nos que, para além dos 814 mil portugueses desempregados, há mais 263 mil que, embora trabalhando a tempo parcial, vivem em situação de subemprego. São aqueles que desejam e estão disponíveis para trabalhar mais horas e que representam 45,9% dos portugueses ocupados a tempo parcial. De novo, muito acima da média, neste caso da União Europeia, que é de 22,7%.
Claro que este não é um problema exclusivo português, como alguns pretendem. A União Europeia e o seu modelo social carregam às costas 25,9 milhões de desempregados, dos quais 18,9 milhões apenas na Zona Euro.
A estes, o Eurostat acaba de contabilizar como novo efeito negativo para a economia da União nada menos de 10 milhões de trabalhadores europeus a tempo parcial cuja situação é reconhecidamente de subemprego.
Era disto que deveriam tratar as próximas eleições europeias.