Um dos mais notáveis escoceses, Sean Connery, disse recentemente que a campanha pelo 'sim' no referendo do próximo dia 18 "gira em torno de uma visão positiva para a Escócia". Fervoroso apoiante da independência que se jogará nas urnas na próxima quinta-feira, Connery não vai, no entanto, poder votar. Por residir nas Bahamas o ator está impedido de participar na votação que ditará - ou não - a separação do território em relação ao Reino Unido. O histórico ato eleitoral é limitado a cidadãos do Reino Unido ou da União Europeia que residam na Escócia.
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É por essa circunstância que a inglesa J. K. Rowling, ao contrário de Connery, vai votar. Moradora na Escócia, a criadora de Harry Potter dirá não à independência porque, segundo afirma, quanto mais ouve a campanha pelo "sim" mais se preocupa com a "minimização ou mesmo negação dos riscos" da separação. A preocupação de Rowling nesta campanha que tem mobilizado inúmeros famosos não se traduz apenas em palavras. A escritora doou um milhão de libras esterlinas para a campanha unificadora. E não foi a única. A banda Franz Ferdinand organizou um concerto pelo "sim" e as iniciativas de um e do outro lado multiplicam-se. Entende-se o nervoso dos que sendo defensores de longa data da independência da Escócia só agora começaram a acreditar que o sonho pode concretizar-se. As mais recentes sondagens indiciam uma inversão da tendência de voto do "não" para o "sim" o que tem causado igualmente grande inquetação àqueles que nunca acreditaram que a separação poderia acontecer.
A surpresa apanhou desprevenidos os políticos em Londres que tentam agora atabalhoadamente multiplicar as promessas de reforço de poderes ao parlamento escocês e outras benesses de última hora numa tentativa desesperada de inverter a tendência das sondagens. É possível que tenham acordado demasiado tarde. Do lado dos nacionalistas o tempo é de euforia. A questão agora é saber, como bem analisava Paul Krugman esta semana no 'The New York Times', qual a sustentabilidade de uma Escócia independente. Neste ainda hipotético cenário, Krugman comparava o futuro país ao Canadá: ambos têm uma economia relativamente pequena e um parceiro comercial privilegiado vizinho e gigante. Com uma diferença: o Canadá tem uma moeda própria, a Escócia não. E mesmo que venha a não depender da libra, a sua economia será "ainda mais fortemente integrada com a do resto da Grã-Bretanha do que a do Canadá com os EUA".
Esse é o problema que os escoceses terão que resolver caso vença o "sim" e depois de esfriada a euforia. Se tal acontecer será igualmente interessante observar o que vai acontecer ao primeiro-ministro britânico. Talvez não restem muitas alternativas a David Cameron para além da demissão.