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O partido mais português de Portugal vai a votos. Pode acontecer tudo e nada. Sendo certo que o "tudo" não é sinónimo de vitória de Luís Montenegro, da mesma forma que o "nada" não é sinónimo da continuidade de Rui Rio. Até aqui, reconheço, mais não se leu do que lugares-comuns e afirmações crípticas. Mas, afinal, não é sobretudo essa - frases feitas e jogadas obscuras - a matéria com que se faz grande parte da política nos dois maiores partidos do nosso sistema? Se alguém tem dúvidas, é só perguntar ao cidadão comum. Ou acompanhar o remoer das redes sociais. Voltemos ao princípio. Ser o partido mais português de Portugal será coisa boa? Para quem privilegia a busca de votos e a conquista do poder, será. E é isso que será avaliado, esta tarde, no Conselho Nacional do PSD: saber quem está em condições de chegar (e entregar) mais rapidamente o poder, que é o que exige sempre a elite dirigente do PSD (tal como a do PS), e mais ainda o pessoal intermédio dos aparelhos, que sobrevivem em torno dessas elites. Mais logo se saberá o que muda, seja com um novo líder, seja com um líder renovado. Mas, se essa mudança é uma mão cheia de quase nada (oposição) ou se conduzirá a quase tudo (conquista do poder), só saberemos a 6 de outubro, data das eleições legislativas. Por garantido só se pode dar que, com um líder ou com outro, o PSD continuará a ser um partido "catch-all" (o sucesso eleitoral em vez da ideologia, para resumir o conceito de Otto Kirchheimer). Às vezes funciona (Cavaco Silva garantiu uma década consecutiva de poder e respetivas prebendas), outras não (o PSD esteve sete anos seguidos afastado do Governo no tempo de Guterres). Quanto ao resto, seja o resultado de hoje, seja o de outubro, façamos como propunha um jogador de futebol, no que já merecia ser considerada uma máxima política de primeira água: prognósticos só no fim do jogo.
*Chefe de Redação