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O setor do turismo descobriu há já vários anos um enorme potencial de negócio a explorar até ao tutano: o do segmento dos estudantes. Fora da chamada época alta, a do verão, algumas rotas, especialmente em Espanha - Ibiza, Benidorm, Lloret de Mar - ganham uma atratividade extra por via de uma mistura irrecusável: clima agradável e propostas de movida a preços de saldo. Ganhou fama a corrida de magotes de estudantes, especialmente de Inglaterra e de Portugal, para junto do Mediterrâneo...
A irreverência e o sangue na guelra da juventude têm, naturalmente, os seus quês. A cada época corresponde uma tipificação de valores e virtudes, mas também de aventura e risco, sempre no registo para memória futura. E a linha divisória entre o razoável e o perigoso sobe na razão direta dos ajuntamentos, da tendência para um certo tipo de afirmação no interior do coletivo, por mais parva que possa ser tal postura. A racionalidade individual, em regra, transforma--se num foco de perigo se e quando se potenciam as reações de grupo.
Um acidente é sempre possível. Num festim de estudantes em férias de Páscoa ou, mais simplesmente, ao atravessar uma simples rua. E esta é razão bastante para ser exagerada qualquer conclusão causa-efeito a retirar da morte de um jovem de Castro Verde no último fim de semana em Lloret de Mar. O que não legitima, no entanto, a desvalorização de certo tipo de comportamentos como alimentadores de riscos elevados.
Há, com certeza, comportamentos cívicos irrepreensíveis a registar por entre o magote de estudantes finalistas em férias. Mas é avisado e realista considerar serem os ajuntamentos marcados por tendência para o consumo de drogas, excesso de álcool oferecido ao preço da uva mijona e brincadeiras entre o irresponsável e o suicidário - o chamado "balconing" é paradigmático. Ora, numa ambiência assim, aberta a confundir liberdade e libertinagem, espanta como milhares e milhares de jovens se ausentam vários dias do seu habitat normal sem qualquer enquadramento específico, isto é, contando por um lado com o beneplácito de pais e encarregados de educação e, por outro, a falta de acompanhamento de professores das escolas a que pertencem. Certo: uma parte deste tipo de organizações faz-se por livre arbítrio de comissões de estudantes, mas, mesmo assim, fica difícil perceber como a autonomia roça o extremo.
As viagens de finalistas marcam, naturalmente, a memória dos jovens. E os atuais não são diferentes dos seus antecessores, geração a geração.
Conviria que uma viagem de estudantes depositasse na memória de cada um algo mais substancial do que a simples desbunda.