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O almirante Gouveia e Melo tem um indiscutível valor eleitoral no quadro das presidenciais de 2026, embora possa vir a perder a contenda. Tudo dependerá do peso das candidaturas que entretanto surgirem. Mas não há dúvida de que ninguém tem ficado calado perante a hipótese de virmos a ter de novo um militar como comandante supremo das Forças Armadas, aspeto por vezes esquecido quando o titular do cargo é um civil.
Quando o caos parecia estar instalado nos primórdios da distribuição de vacinas durante pandemia de covid-19, surgiu uma voz de comando que, justa ou injustamente, ficou com todos os louros da reorganização logística eficaz. Ele próprio não se coibiu há dias de o lembrar: “Logo que apareci fardado, de camuflado”, perceberam qual era o significado de moldar o campo de batalha, facto “que foi essencial para a vitória”.
Quando uma grande fatia dos cidadãos considera que é necessária uma forte voz de comando para evitar o caos, é muito natural que os verdadeiros ou falsos messias surjam e até obtenham ganhos políticos. Na Europa, Portugal incluído, o fenómeno é visível no crescimento das direitas mais radicais e populistas.
Gouveia e Melo não tem necessariamente de ser classificado como um messias, falso ou verdadeiro, e essa é a questão que incomoda muitos. Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes e vários dirigentes políticos têm elaborado ideias precoces sobre o perfil ideal do próximo inquilino de Belém. O almirante chumbaria nessa avaliação. No entanto, eu gosto particularmente do perfil traçado pelo PCP em agosto: o candidato comunista às próximas presidenciais terá de “ter na Constituição da República Portuguesa o seu programa político”. Gouveia e Melo poderá também surpreender pela simplicidade.