Vivemos uma época de medo. Por muito que não queiramos, somos sempre frágeis perante a máquina da economia. Uma máquina que nos permite desenvolver as nossas capacidades, construir sonhos e concretizar expectativas, mas que, tantas vezes, tritura e destrói o que nos permitiu construir.
Corpo do artigo
Não resisto a citar a diretora do JN, Inês Cardoso, no seu extraordinário editorial de ontem: "As crónicas e comentários políticos estão cheios de análises táticas sobre alternativas, crise política e fragmentação à direita, dissolução e oportunidade ou risco, populismo e ruído antidemocrático, mas no limite, na base de tudo, é da vida que se trata: conseguirmos que ela seja melhor para todos, fazendo as escolhas certas. Se não for para isso que cá andamos, no trabalho e na intervenção social, nas associações e na cultura, na investigação e na política, andamos cá para quê?".
É esta inquietação que nos deve mover para abraçarmos as causas que podem transformar o Mundo, navegando com rumo mesmo em águas sombrias e tempestuosas. Pararmos para pensar parece ter-se tornado um exercício inútil, perante a dimensão e a variedade de problemas que assolam as nossas existências individuais e coletivas.
Mas foi parando para pensar que Muhammad Yunus, economista e Prémio Nobel da Paz, ensaiou uma resposta revolucionária, simples e eficaz, para combater a pobreza num dos mais pobres países do Mundo, o Bangladesh.
Yunus, fruto da sua inquietação perante o problema da pobreza extrema, viu o que tantos outros não conseguiram ver antes. Viu que se dermos oportunidades às pessoas para que possam lutar por uma vida melhor raramente sairemos desiludidos. O seu Banco Grameen nasce como o primeiro banco do Mundo especializado em microcrédito, partindo da crença de que a pobreza não é causada pelos pobres, mas sim pelas dificuldades que enfrentam.
Um banco que acredita no potencial da mais humilde das pessoas - e que coloca as pessoas como cerne da sua atividade - afasta-se muito dos conceitos de sistema financeiro com que estamos habituados a lidar. Mas a verdade é que Muhammad Yunus provou, para lá da dúvida, a sua teoria económica e social. O seu trabalho deve continuar a ser inspirador para todos nós, sobretudo nos momentos difíceis que atravessamos.
Será, por tudo isto, uma grande honra para Matosinhos acolher Muhammad Yunus em maio. Ouvi-lo será não apenas uma fonte de inspiração, mas um reforço da nossa determinação em continuarmos a acreditar que estamos cá para fazer o que deve ser feito.
Para fazermos um Mundo melhor, por mais que nos queiram torpedear a utopia, o idealismo e a crença profunda no humanismo, na democracia, na liberdade e na igualdade de oportunidades.
Presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses