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De que servem as nossas preocupações com as alterações climáticas, se não enfrentarmos, ao mesmo tempo, o problema da desigualdade? Como se combatem os efeitos do aquecimento global sem desmontar "a máquina que suga toda a riqueza de baixo e a empurra para o topo"? Terá algum efeito investir milhares de milhões na transição energética, na mudança dos combustíveis fósseis para o hidrogénio, o vento e o sol, se ao mesmo tempo o desemprego e a pobreza convivem do outro lado da rua, ou do outro lado do Mundo, sem que a esse combate dediquemos o nosso tempo, talento e dinheiro (os que o têm)?
Numa interpretação livre, esta é a noção de sustentabilidade de Muhammad Yunus, Prémio Nobel da Paz de 2006. Já passaram vários anos sobre o reconhecimento mundial ao "inventor" do microcrédito. E o epíteto de "banqueiro dos pobres" pode ter ficado agarrado à pele deste venerável ancião, mas Yunus não ficou agarrado, nem ao passado, nem às honrarias. E muito menos ao que chama de "conhecimento velho" que nos trouxe para junto do abismo, que tanto podemos identificar como o desastre ambiental, a concentração de 99% da riqueza nas mãos de apenas 1% dos habitantes deste planeta, ou o desemprego e empregos miseráveis e correspondente falta de perspetiva de uma vida viável para milhares de milhões de seres humanos que tiveram o azar de nascer no bairro ou no país errado.
O que Yunus nos diz é que é errado olhar apenas para uma parte do problema. Se queremos encontrar uma solução para as nossas aflições coletivas, é preciso olhar para o todo. Haverá quem considere um exagero, mas vale citar uma frase da entrevista que, domingo passado, publicámos na "Notícias Magazine". "Se cada um quiser salvar este planeta, ainda vamos a tempo. Pouco tempo. Talvez 30 anos, talvez 50 anos. É apenas o tempo de vida de um jovem. Esta geração de jovens será a última neste planeta se não fizermos as coisas certas".
Há gente a quem vale a pena dar ouvidos. Ou pelo menos ouvir. Muhammad Yunus é uma delas. E qualquer um dos leitores destas linhas, que não chegam para lhe fazer justiça, terá oportunidade de o ouvir, na próxima sexta-feira, a partir das 10.30 horas. É nesse dia que participa no Fórum da Sustentabilidade e Sociedade, na Câmara de Matosinhos. Com transmissão em direto nos sites do JN, DN, TSF e "Dinheiro Vivo".
*Diretor-adjunto