O jornal tem um valor superior ao da comunicação em direto, sobretudo no caso das televisões? Julgo que sim, sobretudo em momentos em que o populismo abunda e consegue lograr representatividades políticas significativas. Portugal, EUA, Hungria, entre muitos outros países, vivem mergulhados numa bolha mediática onde quem tem méritos de "showman" é rei. Porquê? Simplesmente porque os cabeças de cartaz dizem verdades nuas e cruas, sem o bom senso que se exigia antigamente aos estadistas. Alternativa e frequentemente, também proferem absolutas inverdades fundadas em generalizações abusivas. Constituem o elenco de uma aparente peça teatral, em exibição permanente, que poderíamos titular "Sociedade do Espetáculo", nome de um famoso livro de Guy Debord.
Os jornais, sobretudo aqueles que ainda mantêm um vínculo ao papel, independentemente de tentarem apanhar o "TGV da informação" através dos seus canais digitais, são ainda capazes de exercer alguma mediação. Ou seja, refletem e filtram. Têm tempo para fazer esse exercício básico do jornalismo. Repare-se que um recente estudo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social sobre as últimas legislativas incidiu na cobertura televisiva das eleições a partir do incidente de saúde de André Ventura, fazendo notar que houve demasiadas "luzes" a incidir sobre aquele político e respetivo partido. A produção científica sobre estas matérias, em Portugal e no estrangeiro, já provou que quem "grita" marca sempre pontos nas televisões que funcionam durante 24 horas, sete dias da semana, e em que o direto se vulgarizou. Alguém se lembra da última entrevista de um dirigente de extrema-direita a um jornal? Deixo à consideração do leitor a discussão sobre os motivos.

