O histórico de todos os institutos de sondagem foram confirmados no Portal da Opinião Pública, a mais recente das múltiplas válidas iniciativas da Fundação Francisco Manuel dos Santos: a Justiça é um setor em processo de descredibilização permanente aos olhos dos portugueses. Nos últimos 10/15 anos foi vertiginosa a queda da confiança no sistema, passando dos 49% para os 28%!
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Ontem, na apresentação do portal, a lucidez de António Barreto detetou algumas das bases dos constrangimentos - do sistema "pouco aberto ao escrutínio" à existência de "poderes terríveis e muito fortes". Pechas genéricas, obviamente, mas de fácil apreensão pelo comum dos cidadãos.
O sistema de Justiça em Portugal, nos seus múltiplos patamares, fornece diariamente provas bastantes de incompetência, atrasos imperdoáveis e, já agora, um misto explosivo de corporativismo e politização estratégica. Se se preferir: a Justiça está transformada em Portugal num autêntico vespeiro e não augura nada de bom. Pior só mesmo o facto de o sistema político ser incapaz de tomar decisões e preferir justicializar múltiplos domínios - não apenas em matéria orçamental ou de clarificação das incompatibilidades da nova Lei Eleitoral Autárquica.
Os exemplos deploráveis abundam. Todos os dias. E de forma folhetinesco-degradante.
Recente e elucidativo caso: o processo de substituição da principal figura do DCIAP dos últimos 12 anos - e com saldo de ação negativo.
Cândida Almeida está em fim de mandato e a nova procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, optou legitimamente pela sua não recondução, eventualmente à boleia de resultados desastrados e desconfianças de demasiada proximidade, ou mesmo conivência, a violações do segredo de Justiça. Caiu o Carmo e a Trindade!
A nova PGR teve a coragem de mexer no vespeiro e os últimos dias têm registado um fartote de informação e contra informação, incluindo cirúrgicas narrativas de reuniões reveladoras (também) de gargantas fundas dispostas a transformar Cândida Almeida numa heroína porque vítima de inconfessados e subliminares interesses políticos. Ora, o simples facto de se fazerem associações tenebrosas mostra como o DCIAP é apenas uma ponta de um icebergue da enorme descredibilização em que vive o sistema de Justiça.
Se o povo é normalmente classificado de sábio, sim, tem mais do que razões para ter uma imagem deplorável de um dos pilares essenciais de um Estado Democrático.