"Aumento da reforma reduziu rendimentos a 23 mil pensionistas". Esta foi a manchete do JN no dia 15 de janeiro. Nove dias mais tarde, foram publicadas em Diário da República novas tabelas de retenção na fonte do IRS.
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O objetivo é salvaguardar que a atualização das pensões, que começou a ser processada este mês, não é absorvida pelo imposto, garantindo um aumento líquido do rendimento mensal, sem que o contribuinte tenha de aguardar pelo acerto anual do imposto, que aliás só seria realizado em 2023.
Algum partido se pronunciou sobre esta matéria na animada campanha eleitoral? De qualquer forma, o Executivo socialista preferiu não varrer o problema para debaixo do tapete a uma semana das legislativas.
O universo total dos pensionistas da Segurança Social anda pelos três milhões e, beneficiando ou não da medida, nem todos encaram com leveza o facto de o Governo classificar como "aumentos" as atualizações de 0,24% a 0,49% aplicadas a 2,3 milhões de pessoas no início deste mês. Eram "só" 23 mil os afetados pela perda mensal de rendimentos? Se a estimativa do Ministério das Finanças, incluída na notícia do JN de dia 15, estiver correta, a resposta é "sim". No entanto, é toda uma classe de cidadãos que está em causa quando se desvalorizam problemas que, afinal, não são tão insignificantes quanto isso, caso contrário o Executivo não teria corrigido a rota.
A captação do voto grisalho é tão ou mais importante do que atração das novas gerações. O Conselho Económico e Social defendeu, este mês, o reforço das políticas de apoio à família e dos direitos parentais, assim como a melhoria dos salários e do acesso à habitação, para incrementar a natalidade em Portugal. Há 182 idosos por cada 100 jovens no país e, portanto, um ataque a este estrato sénior da população pode sair caro a um qualquer Governo.
*Editor-executivo-adjunto