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"Para dançar tango são precisos dois e eu não tive parceiro durante meses". Esta frase de Sócrates, dita em Madrid, para elogiar a colaboração de Passos Coelho, que substituíra Manuela Ferreira Leite no comando do PSD, parece feita à medida das últimas promessas de trabalho político em comum proferidas pelo presidente dos EUA e pela chanceler alemã. No seu discurso da União, Obama prometeu aplicar-se, juntamente com a União Europeia, na criação da maior zona de comércio livre mundial, partilhando, assim, 800 milhões de consumidores. Por sua vez, Merkel prometeu desencadear a guerra contra o capitalismo selvagem que o capitalismo sério não pode protelar, em particular o europeu, sob pena de perder irremediavelmente os valores da ética que sustentam o modelo de Estado redistributivo da riqueza e solidário. "Vou lutar para que finalmente se acabe com os paraísos fiscais", anunciou a chanceler como programa da sua intervenção na cimeira do G8, a 17 e 18 de junho próximo.
Como ambos participarão nessa cimeira, aprazada para a Irlanda do Norte, só nos falta saber se ambos saberão dançar.
A resposta a esta expectativa é central para que os dois blocos comerciais aspirem a manter o mais possível níveis de desenvolvimento e é crucial para países como o nosso, cuja dimensão de mercado não dispensa as melhores alianças para tentar voltar ao crescimento económico com a competente revalorização do trabalho.
Se ainda persistissem dúvidas sobre a necessidade da nossa economia ser ajudada por uma União Europeia recuperada, porventura no quadro mais global desenhado por Obama, os mais recentes números do desemprego falam por si. Sejam eles analisados em absoluto ou parcelarmente.
Se 923 200 desempregados é em si mesmo um número assustador, que dizer do facto de nada menos de 519 900 não conseguirem voltar ao mercado de trabalho, apesar de o procurarem há mais de um ano?! Ou que dizer do facto de 40 por cento desses desempregados serem jovens?! Ou ainda, que dizer do facto de 148 mil licenciados fazerem parte deste universo negro, o qual parece ir a galope para romper a última das barreiras psicológicas, a do milhão de portugueses desempregados?!
Com as exportações em crescente desaceleração - elas que pareciam ser a luz do farol que indicava o caminho do mar alto do crescimento - não restam grandes dúvidas de que precisaremos de ajuda externa. E que também por isso as propostas de Obama e Merkel seriam muito bem-vindas. Porque deveriam permitir-nos ser rebocados pela vitalidade de um enorme e qualificado bloco comercial, forte e preparado para regenerar o capitalismo global no que mais importa: a seriedade e a solidariedade.