Mitt Romney dificilmente baterá Barack Obama mas vale a pena estar atento às ideias que vêm dos seus conselheiros económicos - e que o "Expresso" publicou no sábado. John Cochrane, professor da importante Universidade de Chicago, é um dos gurus de uma corrente na América que cola a crise europeia essencialmente à crise do Estado Social. À pergunta do jornalista - "Acha que a Europa precisa de programas de estímulo? - as primeiras palavras de John Cochrane dizem tudo: "Está doido? Estímulo quer dizer que os governos deviam pedir emprestado mais dinheiro e gastá-lo em projetos cujo benefício é desconhecido". Por isso os republicanos, ao contrário de Obama, querem voltar a descer os impostos e a fazer a economia funcionar por si.
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Não nos enganemos: esta é a voz da América profunda e vale quase 50% dos votos. É gente que protesta por trabalhar para os outros - os que não são capazes de tomar conta da sua vida. E é aqui que a visão europeia (e a de Obama) é para já diferente. Até agora aceitou-se que a tarefa do Estado é apoiar a vida das pessoas desempregadas porque essa circunstância resulta da falta de crescimento económico. É aliás este custo com a Europa Social que torna os impostos um verdadeiro drama europeu.
O caminho que estamos a trilhar é delicado. Ao contrário do que sistematicamente se diz, as dificuldades das empresas portuguesas ou europeias em ganharem mercado (e assim gerarem emprego) não advém de um euro forte (embora ele não ajude). Mesmo sem euro competiríamos com grande dificuldade e as desvalorizações do 'escudo' seriam uma droga para gerar inflação e juros altos. O essencial é compreendermos que a Europa, para manter o Estado Social, depende de produtos com mais tecnologia, inovação e design. Sem eles não há valor para pagar os salários mais altos do Mundo (os europeus). Sem exportações para fora da Europa não há economia capaz de dar aos estados europeus o dinheiro suficiente para pagar os cuidados sociais dos excluídos, condição essencial para manter a paz social e o atual desenho demográfico de fronteiras. Por isso, estar na globalização é a única via para os europeus manterem um nível de vida parecido com o atual. Pensar que o espaço europeu, fechado, é suficiente para manter a nossa prosperidade indefinidamente, é o caminho para a ruína.
A única boa notícia à vista na economia mundial, como já aqui escrevi, é a de que a população mundial tende a crescer dos atuais sete mil para os nove mil milhões até 2050. É na Ásia, África e América Latina que mais consumidores suscitarão maior crescimento económico. Se abdicarmos desses mercados estamos condenados a morrer pobres e velhos e a vermos os melhores trabalhadores e as melhores empresas a emigrarem da Europa (e não apenas de Portugal) sem fazer retornar riqueza para o velho continente. Mas isso só faz sentido se a Europa e os Estados Unidos impuserem um padrão ético, social e ambiental ao Mundo. Ninguém mais tem autoridade moral para o fazer. Se isso não acontecer estabelece-se um standard onde a lógica de mercado mais selvagem ou o arbítrio de ditadores de esquerda e direita é a lei. E isso quer dizer menos direitos sociais, desrespeito pelo ambiente e corrupção.
Daí a importância das palavras dos gurus económicos de Mitt Romney. Quando a América opta pela desregulação e menores direitos sociais, como aconteceu com George W. Bush, a prazo é o Mundo todo a pagar a fatura. A América desequilibra a globalização cada vez mais a favor da Ásia. A diferença entre Obama e Romney é, em certo sentido, essa - Obama mais europeu, Romney mais asiático. Melhor seria portanto contarmos com Obama do nosso lado para mantermos a Europa como farol de civilização do Planeta. Mas não podemos deixar de ver este perigo: uma euforia ultraliberal a impor o seu padrão em todo o lado, todos os dias. Afinal, a quem damos o nosso 'voto' no hipermercado? E qual o limite para impor impostos aos que trabalham?