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Há muito que o Porto é uma cidade em obras. Basta olhar para o horizonte no centro do Porto para ver uma floresta de gruas. A circulação tornou-se incerta, porque há sempre uma nova obra no percurso e, depois de muita paciência com meses de trânsito infernal, não deixa de ser surpreendente ver o resultado dos trabalhos, para perceber que muitas vezes muda para pior.
Veja-se a Avenida do Brasil, com duas faixas tão estreitas que não cabem dois carros lado a lado, ou a Avenida da Boavista, com uma pista para um metrobus que ainda não existe e que deixa as restantes faixas sobrecarregadas, após a eliminação da pista bus e da ciclovia. Temos carros, autocarros e bicicletas em competição para desembocar na Marechal Gomes da Costa e circular com o metrobus à mistura, porque deixa de haver divisória. Sem saber como tudo se acomodará, quando chegar a frota, porque, até lá, temos apenas o trauma dos anos de obra e uma enorme passadeira vazia onde a montanha tenta a todo o custo parir um rato.
Mas na competição das obras mais mal pensadas das últimas décadas, temos também o acesso ao novo terminal rodoviário de Campanhã. Fez-se uma rodoviária enorme, com ligação à estação de comboio e metro de Campanhã, com autocarros a entrar e sair em permanência, mas existe apenas uma faixa de rodagem para o acesso ao terminal. Uma única faixa onde coexiste o trânsito local, o pára-arranca de entrada e saída de passageiros e a entrada dos próprios autocarros no terminal, já para não falar dos carros de gente que espera, estacionados na berma e nos passeios.
Saímos da VCI e desembocamos naquela rua de dois sentidos, totalmente sobrecarregada, que consegue prejudicar o funcionamento do próprio terminal, porque os autocarros demoram a entrar no edifício, e a passagem de quem, mesmo não tendo nada a ver com aquele conta-gotas, não consegue aceder à estação de comboios e ao trânsito local.
Facto é que, no acesso à velha estação de comboio, a nova estação rodoviária passou a ser um motivo de atraso. Não há como fugir àquela pesada corrente de táxis, veículos de aplicações, autocarros e gente que tira malas da bagageira no meio da rua, porque a via é desproporcionalmente secundária para uma infraestrutura como aquela e, no mínimo, devia ter uma faixa de bus.
É uma pena que os resultados destas obras fiquem por escrutinar e aperfeiçoar, e que não haja forma de corrigir os erros em tempo útil, ainda com o orçamento do projeto, para não termos de esperar mais uma década de impasse, mais meia de concurso público e outra meia de obras, na senda de corrigir os defeitos do que tanto nos custou a construir. Façamos figas para que pelo menos as obras de expansão do Metro do Porto corram melhor.