A situação precária dos imigrantes em Odemira ganhou projeção mediática quando duas das suas freguesias não puderam acompanhar o país no desconfinamento e tiveram até que recuar.
Corpo do artigo
Depois de o presidente da Câmara ter culpado os imigrantes pela cerca sanitária, o primeiro-ministro, António Costa, classificou como "uma violação gritante dos direitos humanos" as condições de vida dos trabalhadores sazonais de São Teotónio e de Longueira/Almograve.
Só agora o país deu atenção ao assunto, mas há anos que a Igreja Católica denuncia situações de verdadeira escravatura no Alentejo, sem conseguir captar a atenção dos média. O então bispo de Beja, D. António Vitalino, denunciou diversas vezes, entre 2010 e 2012, a exploração dos imigrantes, pelo que a situação de hoje em Odemira não o surpreende, segundo o jornal digital "Sete Margens".
A Agência Ecclesia divulgou na semana passada uma nota do arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, em que este lamenta a "humilhante problemática dos migrantes no Alentejo" e recorda o documento de 2019, emitido pela Comissão Diocesana Justiça e Paz, onde denunciava "esta nova forma de escravatura".
Tal como noutras situações complexas que acontecem durante décadas, as denúncias não encontram eco e os problemas não se resolvem. Só quando adquirem destaque mediático é que as entidades oficiais são obrigadas a encará-las e a agir em conformidade. É decisivo, por isso, que aqueles que melhor conhecem esses dramas, incluindo os organismos eclesiais, não se inibam em denunciá-los! Mas, tão importante como isso, é preciso saber fazê-lo, colocando-os na agenda mediática.
Como se verifica agora, há anos que a Igreja denuncia as condições infra-humanas da vida dos imigrantes no Alentejo. Também o tem feito em relação a muitas outras situações degradantes da pessoa humana. Porém, tem sido pouco eficaz na sua comunicação. Terá de encontrar melhores formas para passar a sua mensagem e, assim, atrair a atenção dos média para o seu trabalho com as comunidades. A promoção da dignidade do ser humano só se consegue com a opinião pública e é preciso saber comunicar com ela.
Padre