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Sou levado a pensar que a mensagem de Cavaco Silva, ontem divulgada no Twitter, teve mais efeito no debate do OE do que a própria alocução que, como presidente da República, fez após o último Conselho de Estado. Na verdade, qualquer comparação com o tom do debate do primeiro dia sobre o OE se não foi puro "fingimento", obedeceu a outras determinações. De facto, o que ali se passou, com ataques de baixo nível, nem digo político, mas educativo, numa versão de verdade, só poderia fazer antever que o OE não ia passar. Alguns deputados do PSD, o partido que anunciou ir deixar passar o OE, vociferavam contra o Governo e contra o OE de uma forma desbragada que levaram Francisco Louçã a dizer que nunca assistira a tal desvario naquele hemiciclo. Miguel Macedo e o ex-ministro Aguiar-Branco conseguiram espalhar o pânico, deixando antever que o acordo já era. Talvez desorientado com o que estava a ouvir, nada conforme com o evento fotografado pelo telemóvel de Eduardo Catroga e esgotado com a pressão destes últimos meses, Teixeira dos Santos resvalou, de modo inqualificável, para aquela alusão ao banquete organizado por uma "girl" de Santana Lopes. O sentido de Estado não pode estar na direcção de um voto. Terá de ser afirmado no modo como se fala. Por isso, bem merecem, a advertência do presidente que viu "com muita apreensão o desprestígio da classe política e a impaciência (eu diria desprezo) com que os cidadãos assistem a alguns debates", "espectáculo de cinismo ou agressividade". Verdade seja, e louve-se, que quem nunca desceu do patamar da discussão política foi a Oposição a este OE, CDS, BE e PCP.
Mas a história tem destas ironias: quem trouxe tranquilidade, discussão responsável, sobre o que significa e custa o deixar passar aquele "mau" ou "péssimo" OE, por causa dos cobradores da nossa dívida externa, foi Maria Ferreira Leite, aquela que, naquele Parlamento, e neste momento, mais razão de queixa teria para ajustar contas pela forma como sempre foi tratada e julgada. A sofreguidão de alguns deputados do PSD em chegar depressa ao Poder não é acompanhada pela visão mais perspicaz de um Pacheco Pereira, sempre bem ao lado de Manuela Ferreira Leite.
Este Orçamento não pode agradar a ninguém. Nem ao Governo e muito menos aos governados. "Passado" que foi, e como foi, este OE, é tempo de, efectivamente, começar de base zero os futuros orçamentos. Até porque, os sôfregos do Poder, logo que seja possível, desligam a máquina.