Se o nosso país era antes irrelevante para a geoestratégia internacional, descobrimos agora que afinal pode ter um papel fundamental numa possível revolução no "tradecraft". Inventámos a espionagem invertida.
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Saibam as grande potências: não é preciso vir cá espiar, não se preocupem em aprender a língua, com desenvolvimento de fontes, disfarces, encontros secretos, mensagens cifradas ou microfones escondidos em canetas. Digam-nos o que precisam, nós mandamos tudo por mail. O Estado português é o espião que veio do clima ameno e moderado.
É um embaraço incompreensível, mas não surpreendente: o Estado não respeita o cidadão. Em Portugal, há empresas asfixiadas porque o Fisco cobra logo o IVA por faturas que o Estado demora muitos meses a pagar; em Portugal, o cidadão paga multas exorbitantes por não comunicar uma pintura dentro de casa, mas há hotéis e bares construídos em cima do mar, sem que ninguém assuma responsabilidades; em Portugal, o cidadão assiste, incrédulo, aos abusos, falhanços, negligências e arbitrariedades e o Estado responde com um encolher de ombros, indiferente e absoluto: "O Estado sou eu".
*Jornalista