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Os atentados em Paris marcaram mais um passo no processo de transformação política, social e cultural do Ocidente iniciado no dia 11 de setembro de 2001. Tem sido discreta - exceção feita às revelações de Snowden -, esta paulatina revolução no equilíbrio entre o precário exercício da liberdade e os métodos que permitimos ao Estado para o preservar. Mas a cada massacre sem sentido dos seus inocentes, as sociedades democráticas estão cada vez menos renitentes em abdicar de direitos e valores que são obrigatórios em qualquer definição tradicional de democracia.
É este o paradoxo fundamental que vai continuar a dificultar o nosso futuro. Os métodos tidos como os mais eficazes para combater este terrorismo estão a deixar-nos mais próximos das ideologias que o sustentam. A supressão de garantias fundamentais, a arbitrariedade do poder judicial, a crescente aceitação da violência de Estado, a desconfiança instituída de tudo e de todos, as vigilâncias sem controlo; os militares armados nas ruas; os poderes sem escrutínio, ou o fim da cidadania anónima e reservada são sacrifícios que estamos mais disponíveis para fazer, sem protesto, convencidos de que assim estamos mais protegidos. Não estamos.
Mas aprendi com Hemingway ou Vargas Llosa que a luta contra a intransigência absoluta é sempre muito difícil e poucas vezes vitoriosa. Por isso, reconheço que as alternativas são poucas, embora lamente saber que agora o caminho é irreversível. Não vejo um fim para estes meios.