Cá em casa, antes desta ser a minha casa, já havia muito Germano Silva, já ele estava bem instalado no coração destas paredes e estantes.
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Bem antes disso, antes de eu cá entrar, quando ainda vivia noutras casas e longe de imaginar que um dia me mudaria para esta, bem perto aliás de onde ele mora, o Germano era para mim um nome no jornal, um importante nome no jornal, que me ia acompanhando à distância dos olhos ao papel.
Depois cheguei a esta casa e tinha pena, porque entretanto comecei aqui no JN e já me tinha cruzado diversas vezes com o Germano, mas ele não se cruzava nunca comigo. "Ah viste o Germano hoje?", perguntava-me ela, "Dá-lhe um abraço meu, da próxima". Eu dizia que sim, que daria, sem coragem para admitir que estava em desvantagem. O Germano só me dizia olá por cortesia mas não sabia sequer - nem tinha de saber - o meu nome. Como iria eu dar-lhe um abraço?
Os dias passaram até que um dia o Germano me veio cumprimentar, caloroso, e disse o meu nome. Fiquei espantado, claro, e não soube, nem nunca lhe perguntei, o que teria feito eu para passar a merecer sempre a sua preciosa atenção. Mas fiquei tão feliz com a nova cumplicidade que quando voltei a casa fiz o anúncio: "Vi o Germano. Fiquei-lhe com o abraço que me deu. Vou ali instalá-lo bem visível na estante".
JORNALISTA