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O medo de sermos enganados está a modificar a forma como comunicamos. A geração Z já não diz “olá” ou “estou” ao atender uma chamada telefónica. Espera que, do outro lado, alguém fale primeiro. E este comportamento começa a contagiar outras gerações. É a defesa possível num mundo onde aquilo que somos se tornou matéria-prima para fraudes.
O silêncio não está apenas relacionado com novas formas de interação social entre as pessoas nascidas no final dos anos 90 e início de 2000. Um estudo realizado pela Universidade Aberta da Catalunha chegou à conclusão de que 81% dos jovens se sentem ansiosos antes de fazerem uma chamada telefónica. Estão mais confortáveis a dialogar através de aplicações de mensagens, porque podem pensar antes de escrever, apagar antes de serem lidos ou manifestar emoções através de emojis.
Hesitar e ficar calado perante uma chamada tem também uma explicação tecnológica. Cada telefonema pode ser uma armadilha. Cair numa fraude ou recear que a voz seja roubada para alimentar deepfakes ou inteligência artificial são fortes possibilidades. Para proteger a voz, já se escolhe não a usar.
É para que não sejamos obrigados a desconfiar até do som mais humano que temos (a fala) que a Dinamarca quer mudar a legislação sobre direitos de autor para garantir que todas as pessoas passem a ter direito sobre o próprio corpo, traços faciais e voz. Com um amplo consenso entre os partidos, a Dinamarca quer levar esta proposta à escala europeia.
Não é uma medida distópica. É uma tentativa de travar um futuro onde falar menos, esconder o rosto e calar a voz se torne a nova normalidade.