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Não se pode fingir que a presença de um homossexual assumido num colégio militar não possa causar constrangimentos aos colegas. Todos sabemos que a adolescência é um terrível caldo de medo, rejeição e crueldade. Os jovens não nascem todos no mesmo contexto social e não estão, infelizmente, todos expostos às mesmas influências de modernidade e abertura à diferença e à mudança. Não é razoável, para já, exigir que a superação de um preconceito, e deste preconceito em particular, se faça assim, sem qualquer resistência, esquecendo que mudar é quase sempre uma longa e excruciante contenda, com danos colaterais difíceis de aceitar e injusta para as vítimas que ficam pelo caminho. Mas se essa resistência ainda pode ser compreensível em adolescentes neste contexto, já não é aceitável entre quem os comanda, que não pode conformar-se nem desistir de lutar só porque a batalha vai ser dura. Cabe a quem lidera perceber o andamento do mundo e aceitar isto, que é inevitável. E depois criar condições para que a mudança se faça, serena mas resolutamente, ajudando a quebrar as barreiras para que todos passem a ser tratados de forma igual. Hoje, com dificuldade, para que amanhã seja com normalidade. Os homossexuais têm tanto direito a querer morrer pelo seu país como os outros. Batalhar pela igualdade de oportunidades para todos é o que nos distingue dos bárbaros e um militar não vira a cara à luta. A pior coisa que pode acontecer a um exército é ficar do lado errado da História.
*JORNALISTA