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A forma como o PS malbaratou, em ano e meio, uma maioria absoluta será matéria de trabalho em academias várias e estudos diversos. Conteúdo não faltará, desde logo porque as causas desta loucura têm uma gravíssima consequência: o país é obrigado a parar no exato momento em que estamos obrigados a caminhar para contornar a multitude de dificuldades que enfrentamos nas mais diversas frentes. O impacto da travagem será brutal, o que aconselha a olhar para lá da espuma dos dias. Tal como está, o estado das coisas reclama muito juízo nas escolhas que determinarão a reformatação do panorama político. A subida eleitoral quase certa dos partidos que têm no protesto e no populismo o seu único mantra (Bloco à Esquerda, Chega à Direita) implicará a redução do espaço de manobra do PS e do PSD. Vale o mesmo dizer: se o apetite de socialistas e sociais-democratas para chegar à liderança do Governo se sobrepuser à avaliação das prementes necessidades do país, é bem provável que caiamos na esparrela de uma nova geringonça. Uma frágil solução como essa estará nos antípodas da argamassa política e estratégica de que precisamos para atacar os atávicos problemas com que nos confrontamos (Educação, Saúde, Habitação, Economia, Finanças e quejandos). A escolha do próximo líder do PS é, por isso, da maior relevância. É sempre, dir-se-á. Certo. Mas é ainda maior desta vez. O partido saberá com que linhas se deve coser, mas deve saber também que não é indiferente optar por linhas duras que fogem dos acordos e consensos políticos de que o país carece como de pão para a boca, ou por linhas que, mantendo a identidade e a responsabilidade do PS, sejam capazes de colocar à frente de tudo os interesses dos portugueses. Colocar gelo nos pulsos e olhar para além do óbvio é um imperativo. Difícil, mas um imperativo.