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"olhares, lugares", o último filme de Agnès Varda - o título talvez resulte melhor no original, "Visages, villages" -, devia ser obrigatório. Varda, grande cineasta francesa, que leva já 89 anos de permanente frescura criativa, é sempre capaz de nos comover com o prosaico enunciado pela sua peculiar objetiva.
O documentário resulta da colaboração com JR, outro artista francês, que aliás o assina também como realizador. Não fica claro qual mão pesou mais nas escolhas que fizeram a substância e a forma do filme, nem isso é particularmente importante. Há metadiscussão, harmonia e dissenção entre os dois, ainda que sempre sem arestas à vista. Mas o resultado é a vitória do normal, ou como as vidas normais, sendo apenas normais, podem ser celebradas como extraordinárias. Mais, podem ser mesmo extraordinárias, se enquadradas pelo olhar certo.
Ora isto apenas parece que é pouco. Ser-se extraordinário é o que vamos todos tentando, mesmo que de forma não declarada. O que são as redes sociais, se não a soma de indivíduos normais a tentar merecer a atenção devida apenas aos especiais? Mas a questão essencial que o filme levanta é esta: é-se extraordinário por autorrepresentação ou porque alguém com talento escolhe representar-nos?
JORNALISTA