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Por vezes, sentimos as mudanças do Mundo de forma avassaladora. Umas vezes, cheios de esperança. Outras com grande apreensão.
A queda do Muro de Berlim foi um desses momentos de esperança para o Mundo. A idealização de uma nova era de paz, de liberdade e de desenvolvimento humanista.
Agora, vivemos momentos diferentes. À ameaça das guerras, com o seu rasto de destruição, de morte e de pobreza, juntamos agora a incerteza que resulta das eleições presidenciais americanas, com uma mais que provável mudança de política global, tão preocupante quanto imprevisível.
Em Portugal, parecemos às vezes distraídos com o contexto que nos rodeia. Perdemos de alguma forma a noção das implicações externas no nosso dia a dia e desgastamo-nos em debates demasiado redutores.
Não é só em Portugal que há uma crise de habitação, por exemplo. Mas discutimos a nossa sem querer olhar para outras abordagens, bem mais incisivas, mesmo que tomadas por governos liberais. Algumas dessas abordagens tentam corrigir o mercado com uma clara intervenção em defesa do bem público que é o acesso à habitação, em detrimento da liberdade do mercado, que o conduziu a um agravamento especulativo descontrolado.
Deveríamos ser mais capazes de despir alguns preconceitos ideológicos e procurar realmente construir um país mais resiliente, mais justo e mais equilibrado.
Um país em que o respeito pela liberdade dos mercados não comprometa o Estado social de que nos deveríamos orgulhar, numa defesa transversal do seu desenvolvimento.
Esta reflexão é um apelo a um novo caminho. A um caminho de maturidade democrática, que responda aos problemas, às expectativas das pessoas. Um caminho de lucidez, de esperança, de crença no futuro.
Portugal pode ser um farol num Mundo que parece mergulhar em novas escuridões. Somos um povo intrinsecamente solidário, humanista e capaz de união.
O combate aos radicalismos, que nos querem dividir a partir da criação de ódios, faz-se pelo exemplo, pela superioridade moral da defesa do bem comum, pela capacidade de incentivarmos o sentido de comunidade. Com abertura ao Mundo, com tolerância, com trabalho e com determinação.
Com menos comentário e com mais ação. Com menos debates bizantinos e com mais pensamento estratégico, capacidade de cooperação e estabelecimento de consensos genuínos.
Estamos a chegar ao fim de mais um ano, que se precipita num turbilhão de incertezas. É um tempo bom para pensarmos em começar o próximo com uma nova atitude.