A liderança da Junta Metropolitana do Porto (JMP) está a despertar apetites vários. Todos são absolutamente legítimos, mas o tema é demasiado importante para que a escolha do seu presidente seja feita de acordo com critérios que passem ao lado do essencial: a JMP é (deve ser) bem mais do que um órgão que discute os problemas dos 17 municípios que a compõem.
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A JMP tem de ser um órgão capaz de coser os interesses das comunidades intermunicipais que a cruzam, capaz de estabelecer pontes fortes e duradouras com o Conselho Regional do Norte, capaz de se articular eficazmente com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, capaz de se fazer ouvir, alto e bom som, quando as circunstâncias o impuserem. Numa palavra: a JMP tem de ser o eixo da roda de múltiplos fatores. E, claro, ela será tanto mais eficaz quanto politicamente mais forte for o seu líder. Não há grandes países, nem grandes regiões, nem grandes cidades sem grandes líderes.
Os dados de partida não garantem uma escolha fácil, é verdade. Na Área Metropolitana, o PSD ganhou oito câmaras, o PS seis, duas ficaram nas mãos de independentes e uma foi conquistada pelo CDS. Para se chegar a uma maioria são várias as combinações possíveis. Seguir o caminho das coligações de uns contra outros é, porém, tudo o que não deve ser feito, em nome dos superiores interesses de todos. Ou seja: é tempo de fazer política; é tempo de os presidentes se sentarem para discutir o essencial e esquecer o acessório (as vaidades pessoais, por exemplo).
Como em todas as discussões, é preciso partir de um ponto para chegar, ou não, a outro. Julgo que, nas atuais circunstâncias, o perfil do líder pode ser um ótimo ponto de partida. Quem, de entre os putativos candidatos, está em melhores condições de federar interesses sem abrir grandes fissuras?
Recorro a uma tipologia aqui usada há umas semanas por José Mendes, vice-reitor da Universidade do Minho, para acentuar a importância do assunto. Há líderes de três tipos: artistas, artesãos e tecnocratas. O "artista" é imaginativo, inspirador, visionário, empreendedor e emotivo. O "artesão" é estável, razoável, sensível, previsível e confiável. O "tecnocrata" é cerebral, minucioso e intransigente. Como ninguém conjuga tanta "virtude" ao mesmo tempo, trata-se de encontrar aquele que mais se aproxima deste "mix".
Não é tarefa fácil, mas é tarefa que vale a pena. Basta lembrar que estamos a chegar ao tempo das decisões no que aos fundos comunitários diz respeito. Vai ser necessário olho vivo e pé ligeiro, sob pena de, num ápice, tudo estar decidido a favor dos habitualmente bafejados por este euromilhões. E também é tempo de ter coragem para fazer, a sério, a discussão sobre a criação de juntas metropolitanas democraticamente eleitas, capazes de assumir competências das autarquias e do Estado. Por que não começar pelo Porto?