Esta segunda tinha mesmo de ver o programa da TVI24! Tinha ficado muito bem impressionada com a presença inspiradora de Félix Ribeiro no último programa e não queria perder a intervenção de um dos melhores empresários do país, chairman da Bial, Luís Portela.
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Mas correu mal, desta vez! À prestação rigorosa e persistente do convidado correspondeu uma intervenção pouco rigorosa e pouco preparada da jornalista (Judite Sousa) e do convidado permanente (Medina Carreira).
Em resumo, não fora a recorrente e permanente desmontagem feita por Luís Portela, três mensagens teriam sobrevivido:
- Bial seria um exemplo de excelência, muito atípico e muito pouco representativo;
- Não seriam experiências deste género que resolveriam o nosso problema de desemprego - esse carece de uma reindustrialização de que não se fala nem aqui nem na Europa;
- e sobretudo não reflete nenhum progresso sólido em termos da qualidade da nossa geração mais jovem, até porque o exemplo da equipa de Bial era apenas - no dizer de Medina Carreira - o exemplo de uma "seleçãozinha";
Ora, segundo dados do Health Cluster Portugal, o setor da Saúde em Portugal vale 26,2 mil milhões de euros (cerca de 15,2% PIB) com um VAB equivalente a 4,8% do PIB, 910 milhões de euros de valor exportado, 19 000 empresas e 244 000 trabalhadores (4,4% da população ativa). É já uma realidade a merecer um olhar mais atento e uma preparação mais aturada.
Bial emerge como um exemplo que nos convoca por ser a única empresa farmacêutica com um medicamento português lançado ao Mundo, mas muitas outras há como a Hovione (citada, e que nenhum dos dois membros residentes do painel pareceu conhecer) fundada em Portugal em 1959 por três húngaros e com fábricas em Loures, Macau, New Jersey, Taizhou e Cork.
Por outro lado, é precisamente do cruzamento de várias indústrias que tem vindo a desenvolver-se um interessante e criativo núcleo de empresas do dispositivo médico e farmacêutico com especial relevo nas regiões do Norte e Centro de Portugal.
É o caso dos têxteis técnicos com aplicações para cuidados de saúde (a famosa T-shirt que mede a temperatura, o boné que pode tirar eletroencefalogramas ou as meias com funções especiais para diabéticos) ou dos polímeros (em soluções de embalagens para o mercado farmacêutico ou em kits para hemodialisados).
Pareceu decorrer da discussão proposta que a Europa (e por arrasto Portugal) se deixou afundar (com a América do Norte) por um abandono insensato da produção industrial, tema aliás aparentemente ausente de qualquer discurso dos principais responsáveis da União Europeia.
Se é verdade que em 2011 a Indústria Transformadora correspondeu a 15,8% da produção da UE27, talvez tal facto deva ser visto como uma consequência da globalização e não tanto como uma espécie de decisão precipitada de um continente que se autodeslumbrou com os serviços financeiros e afins.
Cuidar de aliviar os custos de contexto tornando mais competitivo o processo industrial e mais fácil o negócio no Mercado Único Europeu são, registe-se, temas nucleares da Iniciativa Europeia para a Industrialização da Europa que enquadrará todos os sistemas de incentivos à atividade produtiva no período 14-20).
O tema está assim na Agenda e no discurso europeu.
E também não se pode, a meu ver, insistir num discurso de permanente desconfiança, como o que se ouviu, sobre a formação da nossa geração mais jovem.
A falta de seriedade que pareceu apontar-se designadamente aos escalões do Ensino Básico e Secundário devem-se seguramente mais à instabilidade curricular forçada pela governação e ao afastamento dos docentes da sua tarefa essencial - ensinar - do que a uma espécie de "rebaldaria" coletiva de quem já não sabe fazer contas de cabeça.
Percebamos que é apenas verdade e sinal de progresso de que nos devemos orgulhar o que Luís Portela afirmou: que os seus "homens" são os melhores dos melhores, Portugueses incluídos naturalmente!