Corpo do artigo
É sinistro que um interrogatório judicial de um suspeito seja transmitido pela televisão. E, porque aconteceu, cala de vez as desculpas dos protagonistas judiciários - defesa e acusação -, que sempre retorquem, quando ouvem críticas sobre lentidão, que "o tempo da Justiça não é o tempo mediático". Lamento dizê-lo, mas é a Justiça que têm andado a marcar o ritmo aos média, com fugas de informação, violações do segredo de justiça e encolher de ombros quando acusações são transformadas em sentenças populares. Pior, quando estes abusos possibilitam que eventuais culpados se sintam justificados para se atreverem publicamente a dizer que são vítimas do sistema.
Mas mais sinistro é o que as investigações da Operação Marquês, do caso EDP e do processo GES já descortinaram: um lamaçal de malas de dinheiro, transferências para offshores, sacos azuis e relações duvidosas entre governantes, banqueiros e grandes empresas.
Não sei se Sócrates é inocente ou culpado. Desconheço se Ricardo Salgado usou ilegalmente a sua influência. Não tenho a certeza que Zeinal Bava ou Granadeiro tenham quebrado a lei. Ou se Manuel Pinho agiu fora das regras.
Tenho é a certeza que todos têm, no mínimo, de corar de vergonha, primeiro, e reduzirem-se ao recato, depois. E não se atreverem a tentar convencer-nos que este lodo, mesmo que tudo afinal seja legal, possa alguma vez ser aceitável em homens de bem.
JORNALISTA