Recomeço com uma leitura das eleições europeias, esta semana apenas europeia.
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A principal conclusão é a continuação do processo de fragmentação política, com a perda de influência dos partidos tradicionais e o crescimento de pequenos e novos partidos. Esta fragmentação não foi, ao contrário do temido, apenas resultado do crescimento dos partidos populistas antieuropeus de Esquerda e Direita. Onde apareceram partidos políticos com uma agenda fortemente pró-europeia conseguiram bons resultados.
Como já escrevi antes, esta fragmentação é resultado da crescente predominância de novos temas políticos que desenham uma fronteira ideológica que não encaixa na distinção tradicional entre Esquerda e Direita. Esta circunstância representa um desafio para os partidos tradicionais pois o seu eleitorado sociológico tradicional divide-se quanto a alguns destes temas. Perante isto a resposta dos partidos tradicionais tem alternado entre a ambiguidade política (incapazes de assumir uma nova ideologia para este novo tempo) ou o simples oportunismo político e eleitoral (navegando e alternando posições e convicções políticas consoante o que é eleitoralmente oportuno). O sucesso dos populistas, sobre quem também já escrevi, explica-se pela mensagem clara, ainda que falsa, de retoma do controlo nacional. O que estas eleições europeias também confirmam é que há uma fatia significativa do eleitorado disponível para se mobilizar em redor de uma mensagem claramente oposta à dos populistas soberanistas. É aí que está também, provavelmente, uma parte do eleitorado abstencionista que rejeita o antieuropeísmo e radicalismo dos populistas mas também não aceita a ambiguidade ou oportunismo políticos de boa parte dos partidos tradicionais.
Não deixa de ser relevante o facto de estas terem sido, a nível europeu, as eleições para o Parlamento Europeu com maior participação nos últimos 25 anos e a primeira vez em que a participação eleitoral cresceu. É claro que onde as eleições foram mais europeias (sobre temas europeus) a abstenção foi menor. É também cada vez mais visível que os novos temas políticos conduzem a um debate europeu: é o caso das alterações climáticas ou da imigração. Esta maior participação também ajudará a defender o processo do spitzenkandidat (a apresentação de candidatos a presidente da Comissão Europeia pelos diferentes grupos políticos europeus). Não é certo (longe disso) que o candidato do PPE (Manfred Weber) venha a ser o presidente, mas também parece claro que a escolha será entre os spitzenkadidats. Será necessário um acordo entre as três principais famílias europeias (Populares, Socialistas e Liberais - incluindo o partido de Macron - eventualmente com os Verdes). É possível que, no quadro desse acordo, o PPE abdique da presidência da Comissão em troca da presidência do Conselho. Mas atendendo à nacionalidade alemã de Weber e ao facto de ninguém pretender um alemão no BCE, diria que todos os esforços serão feitos para convencer Merkel a ser a próxima presidente do Conselho. Nesse caso, a presidência da Comissão iria para um socialista ou liberal que tenha sido spitzenkandidate: Timmermans ou Verstager.
Professor universitário