O poeta Sá de Miranda já escrevia, nos idos do século XVI, ao rei D. João III: "não me temo de Castela donde inda guerra não soa; mas temo-me de Lisboa, que ao cheiro desta canela, o reino se despovoa". A forma aqui encontrada serve para ilustrar porque Portugal continua a ser um país com os índices de desenvolvimento mais críticos da União Europeia. Quase quarenta anos após a adesão continuamos numa gritante confusão de políticas públicas.
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A opinião publicada está a refletir o mal-estar das populações, as sondagens sentem as preocupações do eleitorado e as diferenças de oportunidade de discurso, entre o presidente e o Governo, são, cada vez mais, evidentes.
Neste enquadramento projetamos um conjunto de políticas avulsas, que nuns dias parecem não ser possíveis e noutros já são realizáveis como evidencia o caso do IVA zero ou o Mais Habitação.
Ao mesmo tempo aplicam-se medidas, sempre de curto prazo, preferindo esquecer as reformas mais estruturais com medo do exemplo francês de Macron.
O reino está pois a despovoar-se porque os mais novos e os mais ativos da nossa sociedade continuam a sair para o estrangeiro devido a uma política de baixos salários e de subsidiodependência. Se aceitarmos que estamos a viver em tempo de ameaças torna-se evidente ser necessário não ter medo de implementar as reformas sucessivamente adiadas. Justiça, segurança social, saúde, habitação e educação são os exemplos mais gritantes. Enquanto a política de contas certas se conseguir aguentar o Governo vai-se segurando desejando escapar pelos pingos da chuva.
Ao mesmo tempo vemos a extrema-direita do Chega a subir nas sondagens como um reflexo fácil de uma política de café, transportada para o Parlamento, e que é de fácil compreensão para o cidadão comum e que se reduz a um dizer mal de tudo e de todos.
As últimas sondagens mostram como os portugueses estão ansiosos por um processo de mudança que se consubstancie numa alternativa assente em valores democráticos e com políticas públicas diferentes. A degradação dos serviços públicos e a insatisfação dos seus funcionários, aliada a sucessivas greves, estão a criar mais grupos de pessoas desiludidas. Numa sociedade onde a pobreza e a desigualdade continuam a persistir torna-se muito difícil dar esperança àqueles que agora se começam a denominar pessoas vulneráveis.
Não será o Chega a capitalizar este descontentamento e, também, não pode ser o Chega a destruir a democracia.
Compete ao Partido Social Democrata liderar este processo de transformação e de mudança em Portugal. Para ganhar eleições o PSD tem, de novo, de voltar a falar com os portugueses, com a sociedade civil que os representa e ir de encontro às suas expectativas.
Fica a pergunta e o desejo de saber conseguir ser uma alternativa.
*Professor universitário de Ciência Política