O meu saudoso amigo José Medeiros Ferreira, de boa intuição política, disse uma vez que Portugal reunia as melhores condições para se tornar num país de eventos.
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Não sei se estava a ironizar, mas suspeito que não estaria completamente. Foi ainda o "cavaquismo" que abriu as portas à Expo 98 - e à maravilhosa ponte do detergente "Fairy", a Vasco da Gama, que lavaria os pratos da egrégia feijoada da inauguração -, não obstante ter sido o consulado de Guterres que a aproveitou.
Costa começou aí a sua extraordinária carreira de político de eventos. Enquanto ministro-adjunto com a tutela daquilo, recebia diariamente delegações e procedia ao hastear das respectivas bandeiras a partir do quintal do gabinete instalado no pavilhão de Portugal. Seguiu-se a "Porto 2001", e depois entrámos no ciclo infernal da bola do qual nunca mais saímos. Um "Euro", em 2004, deu pretexto ao investimento bíblico em betão para estádios.
Fora dois ou três, e independentemente da obra arquitectónica "em si", redundaram em prejuízo que, volta não volta, precisa ser acudido. Quando o "Euro" não vinha a nós, nós íamos ao "Euro" e fazíamos a festa em casa, como se se tratasse da refundação da nacionalidade. Todos ainda nos lembramos das correrias de 2016 entre o aeroporto e as sedes do poder. Em certo sentido, o poder político actual "fundou-se" nesse ambiente de bem-aventuranças permanentes e de alegrias intermináveis.
Corrigida a bancarrota socialista, entre 2011 e 2015, o homem das bandeirinhas da Expo não tremeu com os incêndios de 2017. Não treme, aliás, com nada porque não é dado a estados de alma. O Governo está em dificuldades para controlar as cadeias de transmissão da covid-19 (estou a citar a sra. Temido), sobretudo em alguns concelhos de Lisboa e Vale do Tejo.
O Governo sabe que, a virem, os milhões da União Europeia para a crise suscitada pela pandemia só serão efectivos a partir de 2021. E que o turismo, no qual o regime apostou as fichas todas, está num "plano Titanic". Vai daí, agarraram-se como gato a bofe à UEFA - a UE possível - para recebermos oitos jogos da "Liga dos Campeões", em Agosto. Onde? Apenas e só em Lisboa. Sem público, pelo menos, espera-se, por elementar respeito pelos portugueses. E pelos lisboetas, em particular, já que o presidente da Câmara não tem nenhum.
Entretanto, o edil do Porto, Rui Moreira, a braços esta semana com os "santos populares", cerceou os movimentos públicos e impediu um concerto menor em espaço fechado. Esteve bem. Onde há pandemia, não há palhaços.
o autor escreve segundo a antiga ortografia