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Na manhã do dia 25 de abril de 1974 estava no Liceu Nacional de Alexandre Herculano, quando as aulas foram interrompidas por um auxiliar, à época dizia-se "contínuo", a informar que por ordem do senhor reitor devíamos regressar de imediato a casa porque havia uma revolução. A viver a "idade do armário" confesso a minha pouca perceção do que estava em causa, em que nem mesmo o facto das paredes meias do liceu com a sede da PIDE/DGS no Porto, somado a algumas rebeliões ocasionais provocadas pela oposição democrática, tinha sido suficiente para um despertar consciente da situação política.
Mas vivi com ânimo e alegria os dias e meses seguintes, durante os quais assistimos a uma enorme e genuína libertação de energia, contida por um regime que estava a condenar o país a um subdesenvolvimento e isolamento insustentáveis. A forma como decorreu a emigração em massa para a Europa nos anos sessenta é algo que só nos pode envergonhar enquanto sociedade, ficando como fator positivo a enorme coragem dos portugueses que a tal estiveram disponíveis, que com sacrifício e sem nunca terem perdido a referência às suas origens e o orgulho de ser português, ainda nos auxiliaram durante anos com as poupanças do seu trabalho árduo! O centralismo já era marca registada no país, onde os tiques ditatoriais chegavam a absurdos inconcebíveis. As leis que regulavam o país em matéria desportiva determinavam que os mandatos da presidência da Federação Portuguesa de Futebol eram alternados entre o Benfica, o Sporting e os Belenenses! Ao que se acrescentava o facto fantástico de que nenhum delegado podia residir a mais de 40 km de distância de Lisboa!
É por factos como estes que tenho tendência a passar uma espécie de esponja pelos anos seguintes ao 25 de Abril. Em especial pelos desvarios radicais de muitos dos que nos governaram, ou governam, pese o facto de em muitos dos casos a reconversão à democracia, ou ao capitalismo, ter sido bem tardia. Do meu lado mantive-me onde sempre estive e dentro dos valores que fui consolidando: os de um estado que garanta um nível adequado de educação, saúde e justiça social, do lado da atividade produtiva empresarial enquanto forma de criação de riqueza numa sociedade moderna, com equilíbrio e responsabilidade social. Contra os que vivem e usam o serviço público em proveito próprio e não como um precioso bem comum.
PROFESSOR CATEDRÁTICO, VICE-REITOR DA UTAD