Corpo do artigo
Em dezembro de 2008, as autoridades norte-americanas tiveram conhecimento do envolvimento de Bernard Madoff numa fraude de biliões de dólares com recurso ao "esquema de Ponzi". Em junho de 2009, o prevaricador foi julgado e condenado a uma pena de 150 anos de prisão. Seis meses bastaram para que a justiça agisse. Madoff percebeu que o crime não compensa. E outros pensarão muitas vezes antes de lhe seguirem o caminho.
Em 2009, Portugal surpreendeu-se com a dimensão da delinquência bancária e das falhas de supervisão reveladas na 1ª Comissão Parlamentar de Inquérito ao BPN. O dinheiro subtraído, tantas vezes tratado como "crédito malparado", não se evaporou. Foi distribuído em operações premeditadas por quem lhe conhecia o destino e não acautelou o risco com as garantias mínimas que é suposto um banco pedir. Anda por aí escondido nos offshores desta vida. É gasto em destinos tropicais, casas de praia e beberetes. Passaram nove anos. Mas não se conhecem condenados, alguns envolvidos não foram constituídos arguidos e ninguém se surpreenderá se um destes dias as prescrições acontecerem, como tantas vezes no passado.
O Estado já gastou 14 mil milhões de euros em apoios à Banca. Tem sido assim com o BPN, BPP, Banif, BES e CGD. Mas o contribuinte que paga não tem direito a saber porquê.
A Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD pediu dados relativos a créditos com imparidades e em incumprimento. Mas a Administração que quer ver o banco recapitalizado em mais de cinco mil milhões de euros, com base numa decisão que é do poder político e paga pelos contribuintes, recusa a esse poder político as informações, apesar de básicas, para que possa avaliar a justiça e o custo da pretensão.
Soube-se também que um consórcio oferece 15 milhões de euros pela aquisição do crédito malparado da Banca portuguesa. Questionado, o responsável recusou detalhes. Adiantou ainda assim tratar-se de uma proposta que está a trabalhar com a Delloite, "totalmente de mercado e privada".
Ou seja, a Delloite, auditora da CGD que não detetou os pecados passados, mas mantém a incumbência de avaliar as imparidades que justificam a recapitalização futura do banco, assessoria o consórcio que pretende comprar o crédito malparado. Significa que quem assiste o banco que quererá vender os créditos pelo mais alto valor, aconselha em simultâneo o consórcio interessado na respetiva aquisição pelo mais baixo valor, a acreditar nas leis do mercado. Mas ninguém se questiona, apesar da opacidade e dos conflitos de interesse.
Como teria sido mais fácil a vida de Madoff em Portugal.
* DEPUTADO EUROPEU