O Governo conseguiu, finalmente, arrancar com a "operação limpeza" do QREN (Quadro de Referências Estratégico Nacional), a sigla salvífica, digamos assim, da economia nacional. É aos fundos europeus que, dada a penúria em que vivemos, podemos ir buscar dinheiro para ajudar o abúlico tecido económico e industrial a renascer, ou a começar a renascer.
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O passado recente (as últimas duas décadas, sobretudo) são o perfeito exemplo daquilo que um país estruturalmente pobre como o nosso não deve fazer, sob pena de chegar ao ponto onde hoje estamos: a falência. O desperdício de recursos, na ordem dos muitíssimos milhares de milhões de euros, teve esta triste consequência: desindustrializou e desequilibrou o país. A aposta numa política expansionista fez, por um lado, tombar as contas públicas e as contas externas, e, por outro lado, atirou para a faixa litoral do país mais de 2/3 da população portuguesa, desertificando, de forma galopante, o resto de Portugal (a paisagem).
Estratégias de desenvolvimento que se adequassem às realidades regionais e às necessidade dos territórios foram esquecidas, porque a política do betão e do alcatrão via-se mais depressa, proporcionava maiores frutos políticos e, acima de tudo, dava ao nosso cantinho à beira-mar plantado um arzinho de modernidade com que os indígenas há muito sonhavam.
Os fundos europeus ajudaram substancialmente a levar a cabo esta desastrosa política. E é por isso que faz todo o sentido perceber agora o que está a ser investido, como está a ser investido, por quem está a ser investido e, sobretudo, que feedback se espera do investimento. A "operação limpeza", que acabará (assim se espera) com os desperdícios, gorduras e loucuras,"é, nesse sentido, também uma "operação realidade".
Resta saber o que vem a seguir. Ultrapassadas (?) que estão as guerrinhas de capelinhas entre os ministros da Economia e das Finanças, é natural que a poupança resultante da reprogramação do QREN seja em boa parte encaminhada para o combate ao flagelo do desemprego. Não o fazer seria um erro. Mas será igualmente um erro - e crasso - não aproveitar a oportunidade para fazer um escolha criteriosa dos investimentos reprodutivos a beneficiar, seja na economia, na área social, no sector cultural ou noutros cujos projectos tenham pernas para andar.
Andar significa aqui várias coisas: significa apoiar negócios que criem valor acrescentado; significa apoiar marcas de sucesso garantido e jovens empresários com vontade de conquistar o mundo; significa eliminar desequilíbrios regionais que ajudem a travar a sangria do interior do país; significa, enfim, ter presente que há mais vida para além das finanças. E quanto melhor for essa vida, melhor serão as finanças.
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