A sensação de que, mais dia, menos dia, ao "pacotinho" entregue pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal, à Grécia e à Irlanda se seguiria um "pacotão" entregue a um dos gigantes da União Europeia (UE) cresceu tanto, tanto que acabou por concretizar-se. Os malfeitores do FMI (designação preferida da nossa querida Esquerda) estarão a juntar as notas e a definir as correspondentes exigências para entregar até 600 mil milhões de euros (quase quatro vezes o valor do nosso Produto Interno Bruto) à Itália, a terceira maior economia da Zona Euro.
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Culpas? A Esquerda dirá que a usura do FMI e dos execráveis mercados, juntamente com a loucura da senhora Merkel e do senhor Sarkozy, justificam esta anunciada "bomba", cujos estilhaços podem atingir, com fragor, muito boa gente. Há alguma razão neste raciocínio, mas o essencial escapa-lhe. A culpa é de todos os líderes políticos da UE, que foram cedendo, aqui e acolá, aos interesses internos de curto prazo e aos interesses externos de longo prazo. Quer dizer: todos ralham, mas como a casa europeia não tem pão para oferecer, ninguém tem razão. Nem ninguém parece disposto a seguir o que a razão aconselha.
A provável queda da Itália, um dos países TBTF (demasiado grande para cair, no acrónimo inglês para too big to fail) eleva para patamares bem mais elevados a discussão sobre o futuro da Zona Euro e da UE, tal como a conhecemos desde há 50 anos. Até agora, os problemas português, grego e irlandês controlavam-se com mais ou menos euros, mais ou menos austeridade. O que temos pela frente é distinto, para pior: quando a terceira maior economia da Zona Euro soçobra, o efeito de contágio cresce exponencialmente, até ao ponto em que a pressão especulativa atinge a veia aorta da economia do espaço europeu.
Com a noticiada injecção de 600 mil milhões de euros, Mario Monti, o novo primeiro-ministro italiano, terá uma "almofada" de liquidez para escapar aos tiros certeiros dos mercados durante 18 meses. Certo. E depois desses 18 meses? Estará a Itália livre de perigo? Terá a a Espanha sido entretanto arrastada para o abismo?
O "pacotão" é apenas a versão em grande dos "pacotinhos" que o FMI tem preparado. Nada mais. O problema central deste nó górdio permanece e é político - enquanto as instituições europeias, a UE e os seus estados membros não avançarem para uma eficaz e definitiva coordenação orçamental; enquanto o Banco Central Europeu não garantir as dívidas soberanas; e enquanto a Alemanha não abdicar de um pouquinho da sua pesporrência, aceitando agarrar-se ao volante deste comboio descontrolado, enquanto isso não acontecer andaremos de pacotinho em pacotão até ao tombo final. Aqui em Portugal já sentimos as dores e as pisaduras que a queda provoca. Basta multiplicar o cenário por milhares de milhões de euros para termos uma ideia de quão traumático e brutal será o cenário no futuro, se continuarmos por este caminho...